Poesias
“Escrever poesia no Brasil é viver em claustrofobia. O poeta respira um ar rarefeito. Tudo se fecha a sua volta: ele está em pânico. Habita uma espécie de limbo, zona fantasma, onde nada do que produz encontra eco ou ressonância. Como no poema de Murilo Mendes, pode dizer: “Vivi entre os homens/que não me viram/não me ouviram/nem me consolaram”. (Donizete Galvão)
No interior do velho casarão sombrio
Nenhum sinal de vida
Apenas lembranças mortas
O mofo toma conta de tudo
O cupim devora o móvel de pinho
O relógio cuco na parede, emudecido,
Enguiçado e sem graça
Mostra que tudo parou
Todos os sonhos foram engolidos...
Na gaveta da escrivaninha
Fragmentos de um poema inacabado
Papéis corroídos pela traça
Os objetos em desuso
Cobertos por uma grossa camada de poeira
É o retrato do abandono
Tudo parece destituído de sentido
O calendário antigo
O silêncio absurdo
Em todos os cômodos
A marca de tempos idos
Escuridão e frio
Perguntas no ar sem resposta
Rastro de passos perdidos
Na varanda, agora refúgio de gatos arredios,
As teias de aranha oscilam ao sopro do vento...
No quintal onde o mato cresce sem entraves
As árvores centenárias desfolhadas
Recebem os pássaros vadios
Lembranças Mortas
Eu queria tanto que você estivesse aqui...
Eu queria tanto que você estivesse aqui...
Nesse instante em que tudo é um vazio imenso
O meu quarto parece um labirinto
Repleto de incertezas e desenganos
Vejo a porta aberta
Mas não encontro a saída
Quero fugir desse tormento
Mas não consigo
Você está grudada em mim
Mas não te vejo
Minha solidão é tanta
Que, às vezes, finjo que você não partiu
E imagino você me abraçando
Só pra amenizar o meu sofrer
Talvez esteja ficando louco
Mas o amor é mesmo uma loucura
Desmedida e deslavada
Que faz a gente sonhar acordado
E querer viajar nas nuvens
O que fazer com esse amor voraz e desvairado
Com esse desejo intenso
Incontrolável e absurdo
Que não quer aceitar a realidade de que tudo terminou?
Eu queria tanto que você estivesse aqui...
Para desdizer aquele triste adeus.
Uma Noite No “Bar Obsessão”
Nenhum abraço amigo
nenhuma palavra de consolo
para amenizar a solidão dos infelizes.
Nessa noite invernal repleta de infortúnio e tédio,
apenas o vozerio de notívagos insones e angustiados
na esquina da “Rua dos Passos Perdidos”.
Próximo dali, no “Bar Obsessão”,
uma poeta esquálida, sob uma iluminação tosca, de cor avermelhada,
declama a poesia das sarjetas.
Os fregueses, embriagados,
marujos cansados de mar, prostitutas, poetas loucos e vagabundos,
compartilham histórias de desilusões amorosas e lembranças amargas.
Até parecem almas em desabrigo,
no “Vale de Lágrimas”, feridas, sem o devido amparo.
Após ouvirem a poesia, que penetra fundo, até nos ossos,
ninguém consegue conter a emoção,
muitas vezes reprimidas por detrás de sorrisos falsos no dia a dia.
De repente, a voz aveludada de uma cantora anônima,
contagia a todos e muda o cenário.
O canto, como uma mágica, provoca uma transfiguração:
os olhares, antes vagos e melancólicos, aos poucos ganham um certo brilho,
suficientes para mudar o semblante dos fregueses e torná-los mais receptivos.
Daí surge uma mistura de lamentos e euforia, sussurros e gargalhadas,
e, todos bebem com sofreguidão.
Passageiros da agonia e do abandono, pobres coitados, reféns da angústia,
logo voltarão a carregar o fardo da triste sina que os atormenta.
Na parede, o relógio, enferrujado, assinala 5 horas da manhã. O bar vai fechar...
Os fregueses, na maioria bêbados, começam a sair, cambaleantes,
alguns sem rumo, outros sem forças se deitam na calçada.
Nesse instante, sob a névoa gélida,
O “burro sem rabo” passa na rua e recolhe os sonhos fragmentados.
Aqueles dias se foram...
Aqueles dias se foram...
E eu fiquei assim
Aprisionado nessa saudade
Tento me libertar, mas não consigo
E no caminho carrego essa bagagem
Feita de antigas recordações
Cujo peso é difícil de suportar.
Aqueles dias se foram...
Estou triste
Com o olhar perdido no horizonte
Entediado e sem perspectiva
E sinto um vazio imenso dentro de mim
Logo eu, que conheci de perto a felicidade
Perdi todas as motivações
Que alimentavam os meus sonhos.
Aqueles dias se foram...
Estou sem rumo
Sozinho nessa estrada sombria
Com o coração fragmentado
E não sei o quanto ainda terei de caminhar
Antes de chegar ao derradeiro fim.
Pé de Vento
Nada me consome
Eu tenho o privilégio da escolha independente das circunstâncias
Vivo momentos mágicos
Nada me ilude
Consigo me livrar de grandes tentações
Evito momentos trágicos
Saboreio o manjar dos deuses
A minha vida é êxtase constante
Nada me magoa
Não conheço desamor
O perigo e a dor implacável não me atinge
E sou capaz de reverter qualquer situação no último instante.
Pode até parecer mentira
Mas, às vezes, me canso de tanta alegria
Eu sou um “pé de vento”...
Pesadelo
De súbito, um abismo...
Uma queda vertiginosa interminável.
No fundo, uma esperança morta.
De súbito, uma imagem fugidia...
Indescritível, inconstante,
Um grito de pavor. Um sorriso tétrico.
Um momento inesperado, desigual.
Um retorno impossível. Um medo sufocante.
Um suor frio.
Uma dor aguda no peito.
Um delírio inevitável.
De súbito, outra ameaça aparente...
As mãos trêmulas. As pernas cansadas.
Nenhum rosto amigo. Nenhuma saída.
Uma perseguição a cada passo.
De súbito, um anjo, uma fera, uma criança, um demônio...
Uma transmutação de figuras. Um círculo de visões envolvente.
Um falso abrigo. Mais um labirinto.
As horas lentas num triste compasso.
De súbito, a realidade...
O despertar assustado.
Alguém que insiste; Acorda!!...
O quarto, a cama.
Compromisso acertado. O café esfriando...
O cotidiano, a flor, a lama.
Nó na Garganta
Este nó na garganta não desata
E me sufoca
Sempre que o telefone toca
E não é você.
Foram tantos os momentos vividos
Mãos entrelaçadas como se fosse para sempre
E, de repente, tudo se acabou.
Quero me esquecer do passado
Mas não consigo
Preciso de um acalanto
Quem sabe um ombro amigo
Para amenizar o meu sofrimento.
Sei que devo seguir adiante
Sem olhar para trás
Esvaziar a bagagem repleta de suas recordações
E reencontrar um novo caminho.
É sabido que o sol sempre ressurge no horizonte
Apesar das nuvens negras
Mas acontece que, às vezes, não acredito que ainda posso ser feliz
E a descrença toma conta de mim.
Sinto-me amargurado
Na encruzilhada do destino
E nada pra mim tem graça.
Os dias se sucedem
As horas seguem lentas num triste compasso
E por mais que eu não queira
Quando enfim cansado adormeço
Sempre sonho contigo.
Angústia
E o telefone que não toca
O e-mail que não chega
A distância que maltrata
O olhar vago que indica
Que não há perspectiva
Somente a angústia
Corroendo o peito
Deixando o gosto amargo na boca
Como se fosse fel
E esta saudade louca
Que persiste e sufoca
Até a própria alma
E o sonho que se perde
O último alento que se esvai
E a lágrima inevitável que rola
Sobre os lençóis
E a taça quebrada
O vinho derramado
O leito vazio
Terá sido o fim?
Instantâneo de Uma Visão Noturna
Andei sem destino
Desandei em prantos convulsivos...
Parecia haver chegado ao fim
A minha crença amortalhada
O último fio de esperança...
Uma lágrima furtiva surgiu
Em minha face abatida, pálida.
Os meus olhos tristes
Buscaram em todas as direções
Vestígios de amor qualquer
Mas tudo inútil...
Apenas vultos indescritíveis
Naquela noite de infortúnio e tédio se manifestaram ao longe
Como se estivessem festejando minha aproximação com uma dança trágica.
Eram, talvez, vultos que representavam os meus próprios desenganos
E ansiavam sufocar-me para sempre.
Então gritei horrorizado e tentei voltar atrás enfim,
Arrependido da infeliz caminhada
Na qual o silêncio incômodo e sinistro
Refletia um vazio intenso,
Uma tristeza infinda...
Foi quando repentinamente
Encontrei você também perdida
No mesmo caminho em que eu vagava.
Sublime visão noturna de um solitário desvairado
Sem rumo, sem fé, sem nada.
Minha Musa
Cabelos longos
Enfeitado de fios de esperança
Olhar de gueixa
Que atende meus queixumes
Tão perto e tão distante
De acordo com os meus devaneios
Bem que eu te queria agora
Nesse instante
Deitada ao meu lado
Nessa cama forrada de seda azul
Rosto de princesa
Beleza pura
Corpo de sereia
Sem escamas
Que mergulha em mim
Como se eu fosse mar
Sorriso de criança
Repleto de ternura
Que ilumina meu caminho
Tão triste e quase sempre sombrio
Mãos de fada
Cheia de magia
Que acaricia minha alma
Mãos de dama
Cheia de malícia
Que toca na minha pele
E me arrepia
Lábios de mel
Sabores mil
Que me engole todo
Na volúpia do prazer
Voz de bem-querer
Quero mais
Que me cativa
Atiça
Coloca lenha na fogueira
Seios fartos
Eriçados
Montes formosos
Que me desafiam
Para uma escalada
Tudo em você é bonito
Sensualidade a toda prova
Mas uma pergunta intrusa
Não quer ficar sem resposta:
Minha musa
Porque você demora?
Poesia das Sarjetas
A poesia emerge do fundo do poço
No fim do túnel, nenhuma luz
A noite é lúgubre
Tudo está perdido
O coração do poeta louco sangra vinho
Apenas um pálido esboço
Do que está por vir
Palavras afiadas como navalhas
Rasga o véu da hipocrisia
As carpideiras fazem a festa com as mortalhas
E os abutres voam baixo
Prontos para engolir o sonho putrefato
O vazio do silêncio absurdo
Reina absoluto
Na cidade que adormece
A poesia das sarjetas
Entoa o canto do desencanto
Nas esquinas malditas
Madrugadas envoltas em degradação
Desnuda a alma
Desmascara o mais sórdido desejo
Miséria e vício
Assim como a perdição
Vem à tona
Autodestruição
Estampada na cara
Lama no caminho.
Você me atrai como um ímã
Você me atrai como um ímã
Feito de carinho
Jamais imaginado
Original na forma
Especial no conteúdo
E faz de mim o que bem-querer
Sou prisioneiro deste amor incontido
Que me leva até você
Não medindo sacrifícios
Com você ao meu lado
Minha alegria é tanta
Que, às vezes, pareço uma criança
Pronta para abraçar o arco-íris
Viajar nas nuvens
Voar como um passarinho.
Você me atrai como um ímã
Feito de sonhos
Iguais àqueles que nunca deixei morrer
Jamais envelhecidos
Sempre renovados
Apesar da sina
Daí esta atração irresistível
Esta vontade de te amar
Como nunca amei na vida.
Tarde Morna
Água no bebedouro
E o beija-flor que não vem...
O vento traz o gemido do balanço enferrujado
Na varanda, um gato gordo se espreguiça
A teia de aranha se agiganta
E o homem de olhar cansado
Cochila na rede de tecido velho
Nenhuma criança para alegrar o ambiente
Correr atrás da bola murcha
Subir na árvore centenária
O jardim descuidado
É a prova do abandono
Nada de novo na casa antiga
Apenas uma tarde morna
Sonho no sumidouro.
Notícias da Guerra
Há uma nuvem de poeira, pó, fumaça sufocante,
Cada vez mais intensa,
Ocultando os rostos dos desgraçados...
Não existe mais o azul do céu
Para os olhares perdidos que procuram a vingança.
Ninguém sabe mais o que é perdão,
Há muito se esqueceram do amor.
Tudo é ódio, um inferno em chamas.
Os canhões famintos com suas línguas de fogo,
Parecem engolir os campos, as serras,
As últimas flores da primavera...
É a guerra sedenta de sangue e com fome de cadáveres.
Tudo é medo, prenúncio de morte...
Vontade de correr gritando: PAZ!...
Mas, quem ouvirá essa voz angustiante?...
O ódio está em todos os caminhos,
A desgraça em todos os lados.
Um passo à frente – o inimigo
Um passo atrás – a ordem de matança.
Quem ouvirá essa voz?...
Quem?...
Febre e Fome
Febre e Fome...
A terra em transe
Girando, criando, mistificando.
Lágrimas e sangue
Inundando olhos rasos de esperança.
Ninguém é motivo. Não há sorriso.
Treva e pranto
No descampado, desamparado, sem cultivo.
Febre e Fome...
Sem tempo, sem lamento
Os homens caminham, hipnotizados pelo ódio,
Para a guerra, para a morte.
Solidão e suicídio
Como uma epidemia deteriorando a raça.
Tudo é desgraça.
Um punhal sem graça
Perfurando ainda mais os corações que já são de “pedra”.
Já não existe mito
Não se ouve um grito
Acabou-se a sorte.
O Meu Pesadelo
O meu pesadelo foi assim:
De longe, você acenava para mim
Como um louco, eu corria ao seu encontro
Mas não conseguia alcançá-la
A medida que eu corria
O tempo velozmente passava
E eu envelhecia de maneira assombrosa
Na tentativa desenfreada de fazer você voltar para mim
Eu não desistia
E corria sem parar
Cego de tanta saudade
Não percebia
Que já tinha vivido todas as ilusões possíveis
E nada mais restava
No final já não era eu quem corria
Era o meu velho sonho
Que morria
Quando você sumia na névoa do tempo
Era o meu velho sonho
Que renascia
Quando você de novo acenava.
Amor Bandido
Chegou de mansinho, sorrateiro.
E com aquele jeito todo especial
Acabou me conquistando por inteiro.
Parecia até que conhecia todos os meus segredos.
Deve ser minha alma gêmea... Pensei.
E não hesitei. Mergulhei fundo naquele mar de amor
Que imaginei ser puro e verdadeiro.
Também não poderia ser diferente.
Não se pode amar pela metade.
É tudo ou nada.
Amor ou amizade.
E mais uma vez
Com o coração alado
Fui viajar nas nuvens.
Extravasar minha alegria.
Sonhar aquele lindo sonho azul.
Eu queria gritar bem alto
Para o mundo todo ouvir: Eu sou feliz!
Mas tudo acabou assim, tão de repente...
Eu me enganei. Ou melhor, fui enganado.
Iludido. Aniquilado.
Por um amor bandido
Que eu nunca devia ter acreditado.
Boca Vermelha
Meia luz
Meia verdade
A noite inteira para amar
Fantasia e realidade
Jogo de sedução
Segredos inconfessáveis
Gemidos
Corpos suados
Lençóis macios
Loucura e tesão.
Boca vermelha
Que atrai e beija sem pudor
Rasga o véu do desejo reprimido
Devora a alma do amante distraído
Cospe estrelas
Mostra o céu de prazer.
Amor Voraz
Eu amo muito além do que se pode imaginar
E amo de forma voraz a cada segundo,
A cada instante, quando você está ao meu lado.
O meu amor não tem remédio
E se for preciso, desafia tudo.
Esse amor sem preconceitos e avesso a regras
Rompe barreiras e segue indestrutível
Rumo ao infinito.
Nada o anula ou diminui.
Ele penetra profundamente no seu coração e na sua alma.
Mesmo que você desista ou não me queira mais,
Ele permanecerá, porque é eterno.
Esse meu amor é incontrolável.
E por mais que eu tente, não consigo disfarçá-lo.
Eu amo você por inteiro.
Amo o seu sorriso, as suas lágrimas, qualidades e defeitos.
Esse meu amor é inesgotável.
Tenho sempre mais amor pra lhe dar...
Banquete de Desilusões
Trago nas mãos sonhos despedaçados
Sobras de banquete de desilusões
São tantos os desencantos nesta minha vida de infortúnio e tédio
Que nem um “talvez” me consola
Eu quero todo o tempo do mundo
Eu quero você o tempo todo
Para saciar a minha fome de amor
Mas a minha mão não te alcança
E você cada vez mais distante
Foge de mim
Sinto o meu coração fragmentado
Nenhum vestígio de esperança
Apenas solidão e tristeza
Traduzido neste poema que implora
Migalhas de amor.
Sublime Estação das Flores
Que bom a primavera chegou!
Os sonhos se renovam
E a esperança ressurge vigorosa
Nos corações dos amantes solitários
Devemos agradecer aos deuses
Por esta dádiva generosa
Que alimenta nossas almas
Hoje mais do que nunca
Vamos amar por inteiro
De maneira desmedida e sem pudor
Sublime estação das flores
Que revigora o antigo jasmineiro
Acaba com a paisagem cinzenta
E faz renascer o jardim desfeito
Milagre da natureza
Neste ciclo de transformações
Infindáveis idas e vindas
Mutações
Cobre de cores o campo
Enfeita os vilarejos e a cidade
Liberta o sorriso da criança aprisionado detrás das grades da janela
E seja bálsamo para os olhos fatigados dos anciãos
Não permita que o vento da discórdia prevaleça
Mostre toda a sua grandeza
E cada vez mais floresça
Apesar das ervas daninhas da maldade.
Calmaria
Mar sem tormenta
Calmaria na imensidão do azul
Esperança no coração do velho marinheiro
Cansado de navegar sem rumo.
As gaivotas anunciam boas-novas
Um novo cais desponta
Quem sabe desta vez a solidão acaba.
Talvez um rosto amigo ou mesmo um cão vadio
Seria de grande serventia
Para quem tem os olhos marejados de lágrimas
O sal na boca amarga e na pele
Silêncio como companhia.
Mil histórias para contar
E ninguém para ouvir
Tanto amor para dar
E ninguém para receber
De que adianta ser o rei dos mares?
Se ao menos pudesse adormecer junto aos seios de uma bela mulher
Por certo voltaria a sorrir e sonhar
Enfim o cais...
Boa sorte! Velho Marinheiro.
Coisas de amor, nunca mais...
Podemos ser amigos até demais
Trocar retratos
E-mails
Confidências de madrugada
Chorar juntos
Sorrir como crianças
Viver a vida com entusiasmo
Padecer com os mesmos desencantos
Parecer iguais em tudo
Desafiar as convenções sociais
Vencer a barreira da distância
Ficar “pendurados” ao telefone
Fortalecer nosso vínculo de ternura
Sentir a mesma saudade
Uma louca atração
Podemos tanto...
Porém, coisas de amor, nunca mais...
Entardecer Cinzento
Entardecer cinzento
Queixumes
Olhar perdido no horizonte
Chuva e apatia
Alguém desiste de tentar a sorte mais uma vez
Um rosto solitário na janela
Saudade de tempos idos
Fragmentos de um antigo poema
A busca de algum “talvez”.
Entardecer cinzento
Coração em desalinho
Amargura de um sonho desfeito
Chuva e silêncio
Vento levando anseios
Nuvem de tristeza no caminho.
Estrela da Manhã
Estrela da manhã
Precursora do sol
Mensageira da esperança
Inspiração do poeta que ainda sonha
Apesar do escárnio dos insensatos
Guia-me por entre as veredas do novo dia
E renova o meu entusiasmo de viver
Guardiã
De incontáveis juras de amor
Encanto
Que emoldura o céu
Fica mais um pouco
Quero aproveitar esse momento mágico
E redescobrir o caminho da felicidade.
Fim de Festa
O sorriso estampado na cara
Nas mãos o cálice de vinho
O coração batendo apressado
Numa explosão de alegria
A vontade de amar
Superava qualquer outro desejo
E nada era capaz de nos deter
Havia sinceridade no olhar
Em cada gesto
No toque de carinho
Cada encontro era uma doce aventura
E como dois amantes sem juízo
Queríamos alcançar o êxtase do amor
E desafiar o mundo
Uma emoção incontida
Reinava naquele ambiente de sedução
Aroma de incenso
Música romântica
Flores sobre a mesa
Almofadas macias
E nada mais importava
Quando você me abraçava
Com teu sorriso de menina
Até parece que foi ontem
Ainda sinto o teu cheiro
Impregnado em mim
O doce sabor do teu beijo
Aprisionado em minha boca
Mas que bobagem...
Para que relembrar o passado
E sentir a dor cruel da saudade?
Na vida tudo passa
Preciso encarar a realidade
Fim de festa
Tudo se acabou.
Foi-se Embora
Foi-se embora o amor que eu tinha
Só restou a solidão cruel
Que me consome
Este grito contido na garganta
A lágrima que rola na face
A tristeza em cada canto da casa
As gavetas vazias
Este silêncio absurdo
A desilusão estampada na cara.
Na mesa, o bilhete de despedida
Sangra o coração e fere a alma
Causa profunda mágoa
Vontade de nunca mais sonhar
Derrubar as paredes
Rasgar os lençóis
Amaldiçoar o destino
Morrer no mar.
Chega!
Chega de bala perdida
Palavra descabida
E falta de autoridade
Cadê os homens da lei?
Não quero ouvir falar mais de planos estratégicos
Acordos políticos e imunidade
Chega de promessas de campanha não cumprida
Cadê moralidade?
Basta de tanta alienação
Sonhos impossíveis coloridos na TV
Grosseria e falta de educação
Pagamento atrasado
Muita gente desempregada
E o pobre coitado
Na fila outra vez.
Não suporto mais viver assim
Com tanta violência e desamor
Fico desolado quando vejo
A quantidade de droga que a juventude consome
Em pleno século 21
Ainda tem criança morrendo de fome.
Mulher Guerreira
Na madrugada fria
A mulher “guerreira” chora
Solitária e triste
Derrama lágrimas amargas e ninguém vê
Ela está cansada
Guarda sonhos antigos
E carrega cicatrizes
Precisa de “colo” e ninguém sabe
Altiva
Vira uma leoa em defesa de uma causa justa
Solidária
Está sempre pronta pra ajudar os semelhantes.
O coração da mulher “guerreira” sangra
Mas ela ainda resiste
Apesar dos sucessivos embates nesse mundo mundano
Cai e se levanta
Rasga o véu da hipocrisia
Ama de verdade
E abençoada pelos deuses... Persiste!
Náufrago
Como um barco à deriva
Navego no mar de desilusão
E sinto-me completamente perdido
Sem a luz dos olhos teus
Que outrora como farol
Guiou-me na direção segura do bem-querer
Agora me resta os destroços
De antigo sonho
Que desmoronou igual castelo de areia
E essa maldita angústia
Dilacera o meu coração.
Hoje sou um velho marinheiro
Que mareja lágrimas de amargura
Sem ninguém a esperar-me no cais
Aliás, sou náufrago
Mesmo em terra firme
Sim, sou náufrago
Solitário e triste
A nau da esperança soçobrou em mim.
O Aço das Palavras
O aço das palavras raivosas interfere
Penetra profundamente no cerne da questão
Por isso devemos ter extrema cautela
Ao enunciar uma palavra num momento de decisiva importân-cia
O aço das palavras amargas fere
Fragmenta a esperança
Despedaça o sonho
Dilacera o coração.
Os amantes, quando brigam
Utilizam as palavras como arma
E se agridem mutuamente
Na verdade, sangram sem saber
Através das lágrimas ocultas
E do sorriso forçado, para ninguém perceber o quanto se está triste...
Dois corações não se interligam
Quando entre eles o aço das palavras cria o ressentimento
E promove o antagonismo de opinião
Fazendo surgir repentinamente
A sensação de distância e abandono.
O "Homem Máquina"
Cuidado, “homem máquina”!
Repense a sua luta pra ser feliz
Você pode sucumbir nessa “selva de pedra”
Repleta de contrastes e incoerência
Você pode se tornar apenas mais um na multidão
E se anular e perder a sua identidade
O desamor e o egoísmo está em evidência
Ninguém ouve o poeta louco
A voz dos oprimidos
O lamento que ecoa dos becos imundos
A violência virou uma epidemia
A mãe chora lágrimas de sangue
E o filho, drogado, simplesmente ri
– Onde está a saída? – pergunta um forasteiro desavisado
E ninguém sabe responder
Cuidado, “homem máquina”!
Eu sei que você não pode parar nem para pensar
Que está correndo em busca da felicidade
Vai alegar que está em cima da hora
Que daqui a pouco o sinal vai abrir
Tudo bem
Eu apenas queria lhe dizer que...
Ah! Que pena, não deu tempo!
Olhos Azuis Sonhadores
Os seus olhos azuis sonhadores
Mostram o caminho da paz
O recanto de ternura
De que tanto preciso
Refletem o azul do céu
Motivo de inspiração dos poetas
Lembram o azul do mar
Onde costumo navegar
Levado pelos meus devaneios
Quisera contar com os seus olhos azuis sempre por perto
Como bálsamo para meus desencantos
Refúgio para meus sonhos envelhecidos
Mas nossos caminhos seguem rumos diferentes
Transformando os seus olhos em diamantes intocáveis
Porém, a distância não desfaz
Este vínculo singelo
Principalmente porque os seus olhos azuis também transmitem
Aquele mesmo desejo que sinto de sonho azul.
Pássaro Ferido
Carrego comigo anseios
Lamentos fatigados
Mas apesar dos desenganos e sonhos desfeitos
Ainda tenho esperança e acredito no amor
Eu persigo a paz
Aquela sensação de caminhar guiado pelos anjos
Adormecer no embalo do marulhar das ondas.
Dentro de mim existe um pássaro ferido
Que não desistiu de voar
Apesar dos descaminhos e armadilhas
Eu persisto como um sonhador incansável
Na busca incessante da felicidade.
Poema Arrumadinho
Trago-lhe um poema
Arrumadinho
Bem rimado
Lapidado
Perfumado
Com as flores do meu jardim
Este poema que lhe ofereço
Embrulhado com laços de ternura
Não tem preço
É diamante raro
Para ninguém botar defeito
É suave e aconchegante
Serve de alento
E consola o coração aflito
Tem magia
E contagia os mais descrentes
Tem sabor de verão
Sorvete de morango
E refrigera a alma
É também muito útil no inverno
Para quem está só
Serve de edredom
Acho que tem grande valia
Durante a noite
Ou de dia
Este poema dá conta do recado
Mas, mesmo assim,
Caso você não acredite
Ou não queira aceitá-lo
Por achar o autor por demais pretensioso
E o poema sem graça
Sem nenhum valor
Pode mandá-lo de volta
Que o poeta louco
Com o coração ferido
Saberá guardá-lo na gaveta.
"Ruinha"
A ruinha desprezada
Nunca teve arranha-céu
Apenas casas simples
Estreitas
Espremidas
Corroídas pelo tempo
Desprovidas de cuidados
Habitadas por gente humilde
Que ainda sonha
Apesar da lama
Da indiferença
Escancarada das elites
A “ruinha” maltratada
Suja
Sem atrativo
Cenário de estranhas histórias
Marginais
Guarda rastros de passos perdidos
Ancestrais
A “ruinha” condenada
Ao abandono
Infelizmente
Não resiste
E desaparece na enxurrada.
"Sakura"
De repente, a paisagem branca e fria
Cede lugar a um mar de flores rosadas
E a voz da alegria
Quebra o silêncio sepulcral
O olhar vago e as mãos retraídas
Ganham expressão e significado
Ninguém resiste ao encanto da “Sakura”
Que surge na primavera
E cobre o arquipélago
Berço dos samurais
É o convite à dança
O canto para celebrar a vida
Renovar a esperança
E enaltecer o amor
Benditas cerejeiras
Símbolo de felicidade
Que enfrentam o rigor do inverno
E desabrocham em flores na estação seguinte
Todos lamentam a sua efemeridade
E buscam contemplar no curto espaço de tempo
A sua beleza rara
Daí o “Hamani”
A festiva comemoração
O piquenique
O “Sakura-Mochi”
O brinde de “Saquê”
A vontade de amar e ser amado
A paz e harmonia no coração
Sonho Azul
Eu quero aquele momento único
O êxtase jamais experimentado
A volúpia desmedida
A plenitude do amor despojado
Eu quero invadir o teu corpo
Beijar a tua alma
Libertar aquele desejo sufocado.
No meu sonho azul
Marcado pelo erotismo exuberante
Vejo você linda e nua
Pronta para ser possuída sem reservas
Então, o meu coração radiante
Vibra e celebra a vida.
Velho Marinheiro
Velho Marinheiro
Até hoje não encontrou um porto seguro
E com o olhar cansado e o coração ferido
Enfrenta os mares da vida
Numa aventura sem fim.
Velho Marinheiro
Mestre dos mares abandonados
Seu destino é navegar
No oceano de desilusões.
Velho Marinheiro
Seus sonhos naufragaram
No maremoto da desesperança
E seus olhos marejados de lágrimas
Refletem uma amargura infinda.
Velho Marinheiro
Na escuridão da noite interminável
Você navega sem rumo
Através da nau
Cujo nome é “Solidão”.
Solidão
Solidão
Martírio cruciante...
Apenas meu pensamento vaga
Buscando algo
Talvez a esperança...
Meu coração aflito palpita forte
Meus nervos vibram
Minha alma sofre
E meus olhos lacrimejam
Contemplando os astros no horizonte
Solidão
Silêncio, pranto, saudade.
Ouço o murmúrio de uma voz (lembrança de alguém distante)
Sinto o ardor de um beijo nos meus lábios
E o calor de um abraço no meu corpo gélido
Vejo uma imagem...
Delírio
Ilusão de uma felicidade
Mais uma página...
Mais uma página de lamentos
Dedico à minha saudade...
Mais uma página de súplicas e tormentos
Inspirada nas minhas lágrimas.
Mais uma página que se agita
Clamando entre outras páginas
O regresso da esperança
Mais uma página de tristeza
Que o meu coração abriga.
Mais uma página que traduz
A minha própria imagem soluçante.
Mais uma página de um poema
Sem entusiasmo que padece.
Mais uma página apenas
Que, trêmula... Emudece.
Consumação
Consumido, consumado estou
Neste Giramundo
Mundo medo, mundo mudo
Consumido, consumado estou
Caminho descaminhos
Destroços sou
Não tenho nada
Sei de tudo
Morrendo muito
Vivendo pouco
Quase certo, quase louco
O amor é o tudo no nada que somos
Desafiando o Trevo
Mal-me-quer
Mal-me-quer
Mal-me-quer
Mesmo assim eu me entrego
Não resisto à tentação
Mal-me-quer
Mal-me-quer
Mal-me-quer
A verdade não está no trevo de quatro folhas de um jardim.
O amor é o extremo.
Dois corpos que se incorporam na volúpia do prazer
Eternidade num momento
Vida vibrando na vivência do tempo
Desafiando o trevo, a sorte
Muito mais além...
Desencanto
Este meu canto é meu próprio pranto
Que ecoa furtivamente saturado de desilusões...
É meu lamento fatigado por sucessivos desenganos
Minha melancolia, meu tédio e minha saudade
Este meu canto é minha musa doentia
Meu grito interminável de rebeldia
No silêncio desta minha noite de ansiedade
Este meu canto é minha voz solitária
Que se agita murmurante ao vento
Sem nenhuma resposta esperançosa...
Este meu canto é minha fuga
É meu apelo, meu último recurso
Minha desesperada luta...
Este meu canto é meu medo soluçante
Minha meditação confusa, meu resumo estranho
Meu desabafo torturante...
Este meu canto é meu triste desencanto.
O que seria da vida se não existissem as flores...
O que seria da vida se não existissem as flores?
Resplandecendo ao sol ardente
Como o brilho multicolorido do arco-íris numa manhã de festa...
Suaves e delicadas
Como crianças numa tarde poética de primavera
Embaladas ao vento suspirando amores
Em mãos trêmulas fortalecendo uma esperança cultivada
O que seria da vida se não existissem as flores?
Depois de cada tempestade...
No caminho de quem anda triste e solitário
No pensamento vago de uma saudade.
Porre
Embriagado de álcool e de tédio...
Provou o sabor amargo da desilusão...
Anestesiado de sonhos
Permaneceu com sede de amor e sexo.
Embriagado de álcool e de solidão...
Amaldiçoou o destino...
Desencantado de tudo
Desatou o último fio de esperança.
Embriagado de álcool e de lágrimas...
Desandou em prantos...
Revoltado com o mundo
Gritou vários palavrões.
Embriagado de álcool e de mágoas...
Pensou em vingança...
Desesperado com a tristeza infinda
Tomou um porre
Brigou com a vida.
Corpo A Corpo
No seu corpo desnudo, sem mistérios,
Vejo o meu sonho incorporado,
Louco, vibrante, ardente.
O meu desejo incontrolável, latente,
Se faz presente e reacende
Aquela sensação de eternidade num momento.
Corpo a Corpo
Almas entrelaçadas somando anseios...
Pele, nervos, músculos,
Palmo a palmo,
Num confronto harmonioso,
Espontâneo, sem receios.
Nova Aurora de Vida
E o sol iluminou os campos sombrios
E as árvores ficaram repletas de pássaros
Era o prenúncio de uma nova aurora de vida...
Não havia mais o silêncio triste de uma espera infinda
Havia terminado a descrença e o tédio.
E o sol iluminou os caminhos,
Os descaminhos dos infelizes.
E as flores floresceram ainda mais belas
Embelezando os jardins desfeitos.
E a paz reinou em todos os corações aflitos
Fazendo ressurgir a fé.
Então os homens irmanados entoaram um novo canto de alegria
Não havia mais lágrimas
Não havia mais fome
E até o mais descrente e sofrido,
Completamente renovado,
Lembrou-se de dizer: - Obrigado, meu Deus!
Poeta Andante
Vai, poeta andante,
Leva tua mensagem de fé e esperança
Que a vida é uma luta sem tréguas,
A paz, um brinquedo nas mãos de muitos impostores,
A fraternidade, uma flor perdida
Que precisa ser cultivada com perseverança.
Faze de tua poesia um grito de liberdade,
Enaltece a vida sem preconceitos,
Sem ódio, sem rancores,
Demonstra tua crença em Deus
E prossegue, mesmo que no caminho não encontres
Uma palavra amiga, algum consolo
Um aperto de mão, o abrigo de uma solidariedade.
Tua missão não tem fronteira.
O mundo precisa ouvir a tua voz.
Ser poeta também é sofrer a vida inteira, contudo
Persiste e dize com as forças que ainda te restarem: o amor é tudo.