Trabalhos
(Pós-Graduação)
Minha modesta dissertação é dividida em cinco tópicos: o primeiro, abrange o início da produção da imprensa periódica no Brasil; o segundo, tem como foco a imprensa periódica no regime imperial; o terceiro, versa sobre a imprensa periódica no regime republicano; o quarto, engloba a imprensa periódica no século XX; e o quinto, apresenta breves considerações finais.
1 - Início da produção da imprensa periódica no Brasil
AVISOS
"Finalizando em 10 de Março do corrente ano a assinatura da Gazeta feita pelos primeiros seis meses :
Faz-se saber ao Público que a seguinte continuará desde o mês de Março até o fim do ano, para se poder depois seguir regularmente para o futuro, os dois semestres como de costume. As Pessoas que quiserem assignar, dirigir-se-ão á Loja da Gazeta, onde farão saber os seus nomes, e moradas, e darão logo 9$000, preço muito modico; por isso que deverão ter nesta nova assignatura todas as Gazetas assim Ordinárias com Extraordinárias.
As pessoas que quiserem fazer Anúncios na Gazeta dirigir-se-ão de aqui em diante á Loja da Gazeta, onde se lhes tomará a devida nota, como se praticava na Impressão Regia.
Terça feira próxima haverá Gazeta Extraordinária".
(trecho extraído do jornal Gazeta do Rio de Janeiro - sábado 28 de janeiro de 1809 - Fonte: Acervo Digital da Biblioteca Nacional)
De acordo com a historiografia da imprensa periódica, "A Gazeta do Rio de Janeiro" foi o primeiro jornal impresso no Brasil, nas máquinas da impressão Régia, no Rio de Janeiro, e o início de sua circulação é datado de 1808. Outros jornais também surgiram na época do reinado de D. João VI, como por exemplo "Idade de Ouro do Brasil" e o "Patriota". Não resta dúvida de que os referidos jornais estiveram sob controle governamental, mas, eu ouso em dizer que concordo com a tese de estudiosos que encontram neles valor histórico significativo. Basta considerarmos que serviram de campo de disputas e mudanças nas áreas cortesã e da Coroa, comercial, científica e literária. Nas tipografias havia prática de comercio de impressos e outras mercadorias. Além disso, era local de encontro de redatores e leitores, bem como ponto de discussão política, e de rodas de amizade. E por estranho que pareça, também muitas vezes servia de residência do impressor. Acredito que tais fatos, e as interações, provocava alterações no cotidiano.
2 - Imprensa periódica no regime imperial
"Todos podem comunicar os seus pensamentos por palavras, escritos, e publicá-los pela imprensa sem dependência de censura, contanto que haja de responder pelos abusos que cometerem no exercício desse direito, nos casos e pela forma que a lei determinar"
(Constituição de 25 de março de 1824, Art.179, nº4 - Primeira Constituição Brasileira, outorgada por D. Pedro I)
O período em que D. Pedro I governou o Brasil como imperador (1822/1831), denominado de transição, foi marcado por uma grande crise econômico-financeira, social e política. É sabido que a independência do Brasil somente consolidou-se a partir da abdicação de D. Pedro I. O segundo e último monarca do Império, D. Pedro II, governou o país durante 58 anos, e transformou o Brasil numa potência emergente no cenário internacional. Nesse Segundo Reinado a imprensa periódica teve papel preponderante. Razão porque desperta maior interesse no campo da pesquisa historiográfica. Merece registro a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro fundado em 1838, que aglutinou aristocratas, latifundiários e intelectuais na busca do sentimento de nacionalidade. A citada instituição ao difundir as pesquisas de natureza histórico-geográfica muito contribuiu para a disseminação da cultura, e resgate das belezas naturais e valores nacionais. No ano de 1850, duas leis importantes acarretaram mudanças na vida da população: Lei de Terras em 1850 que mudou o conceito de propriedade ao permitir a compra, venda e aluguel de terras; e a Lei Eusébio de Queiroz que acabou com o tráfico negreiro. Entretanto, os opositores do regime monárquico que lutavam pela mudança do "status quo" e tinham como ideal a modernização do país, intensificaram suas manifestações utilizando em larga escala a imprensa, seja com artigos, reportagens ou mesmo charges, através de jornais e semanários clandestinos. O recurso da charge facilitava o entendimento por parte dos analfabetos que era maioria na população brasileira. Por outro lado, com o "indianismo" a ideia de nacionalidade também passou a germinar nas entrelinhas dos romances de José de Alencar. Dados históricos indica que o maior contingente de habitantes vivia na zona rural, inclusive um expressivo número de escravos e seus descendentes sem qualquer direito político. Vale destacar que o processo de abolição da escravidão durou aproximadamente 40 anos. E a escravidão foi o tema de maior relevância social propagado pela imprensa. Segundo pesquisas historiográficas, no período de 1870 a 1872, inúmeros jornais surgiram no país, entre os quais "Argos" no Amazonas, 'Voluntário da Pátria" na Paraíba, "O Horizonte" na Bahia, "O Correio Paulistano", "O Farol" em Minas, "Democracia" no Rio Grande do Sul e outros. Acredito que os "jornais" que circulavam nas academias literárias em São Paulo, como por exemplo, "Quinze de Outubro" (1868) , "O Tribuno" e "A Coruja" (1873) também tiveram papel significativo. Por fim, a libertação dos escravos através da Lei Áurea em 1888 descortinou um novo horizonte político no país.
3 - Imprensa periódica no regime republicano
A Revolução Francesa (1789) foi o marco inicial do ideal republicano. Com o fim da escravidão no Brasil, o ideal republicano se fortaleceu; e inspirado na experiência social europeia, tendo como pioneiro os Estados Unidos (século XVIII), acabou dando origem a um golpe militar com a expulsão de D. Pedro II e família, sendo proclamada a República. Convém salientar que não houve nenhuma interferência da população nesse episódio. Inclusive o povo não saiu à rua para comemorar, dando demonstração de apatia. O escritor Lima Barreto foi enfático: "Brasil não tem povo, tem público". O periódico humorístico "O Malho" publicou interessante charge a respeito. Aliás, essa linguagem de humor era comum na imprensa periódica, e os jornais muitas vezes lidos em voz alta nas praças, nos bondes e nas repartições públicas fazia sucesso. Com reconhecida popularidade, trazia em suas páginas anúncios. Um dos fatos muito abordado pela imprensa na época da república recém-implantada , fazia alusão aos ex-escravos que ficava perambulando pelas ruas sem destino, e desamparados, clamando por inclusão social; o que ficou conhecido na área econômica como "Dívida Flutuante".
4 - Imprensa periódica no século XX
É fato notório que no começo do século XX a cidade de São Paulo se tornou o centro urbano mais moderno do país. As inovações tecnológicas tiveram um avanço extraordinário. A eletricidade provocou mudanças significativas (bondes elétricos no ano de 1900). E, por via de consequência, a imprensa periódica progrediu. Vale destacar que a maioria dos imigrantes europeus não eram agricultores, e não conseguiam se adaptar ao trabalho rural com herança escravagista. Pelo contrário, no país de origem exerciam profissões típicas de área urbana. E aqueles que já trabalhavam como tipógrafos, auxiliares de jornal, encadernadores, e fabricantes de papel, trouxeram técnicas que deram impulso ao desenvolvimento do periodismo no Brasil. Os referidos imigrantes não eram analfabetos, e procedentes de uma sociedade com efervescência política, começaram a fazer discursos de natureza sindical. Vários jornais ditos anarquistas surgiram, entre os quais "A Terra Livre", "A Lanterna", e "A Plebe" com incitações à greve, etc. Os dirigentes tinham como objetivo a criação do proletariado. A partir daí, a imprensa periódica no Brasil ganhou força com mecanismo moderno semelhante ao europeu, e se expandiu em todo território nacional.
5 - Considerações finais
As considerações serão breves, mesmo porque não faz parte do tema proposto, tecer comentários sobre a imprensa periódica no Brasil no século XXI. Todavia, a imprensa no momento está tão conturbada no país, que tomo a liberdade para acrescentar algo.
Imprensa - designação coletiva dos veículos de comunicação que exercem o Jornalismo e outras funções de comunicação informativa - em contraste com a comunicação puramente propagandística ou de entretenimento.
O termo imprensa deriva da prensa móvel, processo gráfico aperfeiçoado por Johannes Gutenberg no século XV.
(Wikipédia, a enciclopédia livre)
A partir de meados do século XX os jornais também passaram a ser difundidos através do rádio jornal e telejornal. Com o advento da World Wide Web surgiram os jornais online.
É oportuno mencionar que o século XXI emergiu numa sociedade alicerçada na informação. O jogo do poder atualmente ocorre na mídia. Portanto, a pauta jornalística deve se fundamentar no equilíbrio, sob pena de provocar convulsões sociais. Creio que no mundo atual, marcado pela globalização, e o acesso imediato a uma gama de informações que se sobrepõe umas às outras, cabe ao cidadão ter a devida atenção e cuidado para não tirar conclusões precipitadas. A imprensa tradicional perdeu o seu espaço. O homem moderno vive "antenado", vale dizer, "ligado" ao mundo virtual. Nessa nova "engrenagem" qualquer pessoa comum, sem vínculo jornalístico, cria notícias a seu bel-prazer, basta utilizar um celular. Diante desse cenário, uma pergunta não quer calar: como distinguir o falso do verdadeiro na "avalanche" de informações conflitantes que recebemos no dia a dia?
A Imprensa Periódica No Brasil Até O Século XX
*Gladston Salles
Dissertação apresentada durante o Curso de Pós-Graduação de História e Cultura no Brasil - 2020 - Universidade Estácio - RJ
Fontes Consultadas:
Constituição Brasileira de 1824.
Wikipédia, a enciclopédia livre.
Rede Memória - rede de memória virtual brasileira
Imprensa periódica o Século XIX
(Marco Morel - professor da UERJ e pesquisador do CNPq)
"Qual o papel da imprensa numa sociedade democrática"?
(Eduardo Guimarães, artigo no Observatório da Imprensa, 17/05/2005
*Observação: Esta obra literária está protegida por direitos autorais. Ao copiar algum trecho, cite sempre o nome do autor.
Minha modesta dissertação é dividida em três tópicos. O primeiro é uma pequena introdução, o segundo a atuação de Alexina de Magalhães Pinto e Mário de Andrade, e o terceiro versa sobre a construção da identidade nacional brasileira a partir da música popular.
1 - Introdução:
A pergunta "o que é música" tem sido alvo de discussão há décadas. Alguns autores defendem que música é a combinação de sons e silêncios de uma maneira organizada. Vamos explicar com um exemplo: um ruído de rádio emite sons, mas não de uma forma organizada, por isso não é classificado como música. Essa definição parece simples e completa, mas definir música não é algo tão óbvio assim. Podemos classificar um alarme de carro como música? Ele emite sons e silêncios de uma maneira organizada, mas garanto que a maioria das pessoas não chamaria esse som de música.
Então, o que é música afinal?
De uma maneira mais didática e abrangente, a música é composta por melodia, harmonia e ritmo.
(Apostila de Teoria Musical - www.descomplicandoamusica.com/o-que-e-musica/)
Especificamente com relação à música folclórica, vale destacar o caráter da espontaneidade, e o fato de ser uma "criação coletiva" (autor desconhecido) vinculada à grupos étnicos, regionais e nacionais. Não resta dúvida que constitui uma herança cultural que se perpetua de geração em geração. Creio que podemos considerar as músicas folclóricas como canções tradicionais enraizadas na cultura popular. Como exemplo, vale a pena destacar: O Cravo e a Rosa, Marcha Soldado, Se essa rua fosse minha, Peixe vivo, Escravos de Jó, Fui ao Tororó, A canoa virou, Boi da cara preta, Capelinha de melão, etc... E quando se fala em música folclórica e popular, logo" vem à tona" as danças; tais como Samba de Roda, Maracatu, Frevo, Baião, Catira, Quadrilha, etc...
E o que dizer sobre o universo lúdico onde a criança se expressa com plenitude? Acho que basta dar como exemplo as Cantigas de Roda. E o recurso utilizado pelas mães para acalmar e fazer adormecer o bebê inquieto? É lógico que todo mundo sabe o que é canção de ninar. Para encerrar o presente tópico, levando-se em conta que música está intimamente ligada a movimento, cito como exemplo o Carnaval, o Congado, a Folia de Reis, e as Festas Juninas.
2 - Atuação de Alexina de Magalhães Pinto e Mário de Andrade
Alexina considerada a "primeira folclorista brasileira" ocupa posição de destaque quando o assunto é folclore; e não poderia ser diferente. Teve uma atuação brilhante e digna numa época em que o folclore era algo desprezível e ignorado pela elite cultural. Deixou um legado de inestimável valor no ensino didático de crianças e adolescentes. Como professora e pesquisadora coletava dados na cultura popular, e com muita criatividade os aproveitava na educação de seus alunos. Alexina foi quem usou pela primeira vez material folclórico na elaboração de livros didáticos. Convém assinalar que também era musicista e incluía as cantigas de roda nos seus projetos educativos. Não resta dúvida de que ela realizou um trabalho cívico - pedagógico revolucionário da Educação na Velha República. A "primeira folclorista brasileira" no campo da música, teve como foco principal as cantigas populares infantis. E soube com maestria transformá-las em ferramenta inovadora de grande eficácia na metodologia educacional. Na percepção da professora, as crianças atraídas por esse novo método de aprendizagem (antes apenas de caráter recreativo) ficariam mais alegres, desinibidas, motivadas e curiosas; o que resultaria num melhor rendimento escolar. Tal iniciativa, alicerçada em cantigas genuinamente nacionais tinha uma conotação cívico - pedagógica louvável. Outro aspecto a ser considerado é que as cantigas folclóricas poderiam ser usadas pelos educadores e pais com objetivo de educar as crianças nos ambientes escolar e familiar. Alexina era muita versátil no ato de ensinar, tanto que através das cantigas populares demonstrava os erros da fala e fazia as devidas correções de acordo com o português formal. Inclusive dava orientações de natureza comportamental.
Com referência à Mário de Andrade, convém mencionar que exerceu várias atividades, entre as quais, foi poeta, escritor, musicólogo, folclorista, etc. Pioneiro no campo da etnomusicologia. Participou do movimento literário denominado modernismo, e ganhou enorme projeção com o livro "Pauliceia Desvairada" em 1922. Na verdade, foi um dos "pilares" na criação da famosa "Semana de Arte Moderna" que reformulou a literatura e as artes visuais no Brasil. Publicou o romance "Macunaíma" em 1928. Realizou um trabalho de grande importância cultural no campo da música e folclore popular. Como pesquisador catalogou músicas do Norte e Nordeste brasileiros. Foi um dos expoentes na "Missão de Pesquisas Folclóricas" (um dos primeiros projetos multimídia da cultura brasileira) com divulgação de músicas de dançar, cantar, trabalhar e rezar. Para Mário, a arte nacional está enraizada na inconsciência do povo, e o artista que queira fazer uma música nacional pura e autêntica deve se inspirar e encontrar subsídios nos dados do folclore. Destacava como exemplo de peculiaridades da cultura popular o aspecto oral, anônima, coletiva e rural. Devendo ser incluído também nessa linha de pensamento o fato de não ser comercial.
3 - Construção da identidade nacional brasileira a partir da música popular
Creio que a música popular é um dos elementos formadores da identidade nacional. Dentro desse contexto, podemos afirmar que a preservação de nossas "raízes" é algo imprescindível. E, cabe aos pais e educadores a tarefa de usar meios adequados para despertar nas crianças, desde cedo, o sentimento pátrio. Caso contrário, a construção da identidade nacional brasileira pode não prosperar. Talvez, não seja exagero, abordar essa questão com uma reflexão mais profunda. Quero dizer, a referida "construção" deve ter caráter permanente. Alexina de Magalhães Pinto e Mário de Andrade, como folcloristas muito contribuíram para a concretização desse objetivo deixando um legado valioso. Alexina, uma mulher a frente do seu tempo, com pensamento progressista, e ideal nacionalista, acreditava que a música popular que se ouvia apenas no espaço da cozinha nos casarões, poderia ganhar a sala através da chamada "ópera lírica nacional" com a participação ativa da professora e folclorista. Vale lembrar, que na cozinha era onde os empregados domésticos entoavam as cantigas ditas marginais, folclóricas, rurais, tradicionais, enfim, popularescas. Essa concepção, entretanto, foi contestada por estudiosos que viam nas manifestações populares a capacidade de interpenetrar em diferentes ambientes; sendo, portanto, a divisão entre cozinha e sala artificial. Na visão da "primeira folclorista brasileira" a música popular só poderia ser reconhecida como fonte de autenticidade nacional quando legitimada pelo erudito. Para a professora, a canção popular teria que merecer a atenção e empenho do intelectual para então servir de inspiração nacional. Fica claro que Alexina trabalhava intensamente com foco na educação infantil e unidade nacional. E, por intermédio de sua ação cívico - pedagógica divulgava os valores e tradições nacionais com o propósito de promover um resgate. Ao pesquisarmos o renomado Almanaque Brasileiro Garnier, entre 1908 e 1912, encontramos o registro de sua trajetória profissional, o que demonstra a sua incontestável grandeza.
Mário de Andrade, por sua vez, entendia que a verdadeira música popular era isenta de qualquer interferência do urbanismo. Não era atingida em sua "pureza" pelo popularesco e pela influência do internacionalismo.
No universo do debate acadêmico sobre cultura popular José Miguel Wisnik faz interessantes considerações referentes ao pensamento de Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Em sua análise crítica, Miguel afirma que a proposta de Mário de Andrade que contempla a junção da cultura erudita com a cultura popular visando a formação da cultura brasileira não teve a devida aceitação em virtude do país se encontrar na época em fase de industrialização e com inúmeras transformações no meio social. Mas, acentua que a contribuição de Mário de Andrade é inegável; e dá vários exemplos, entre os quais , Macunaíma. Quanto à proposta de Oswald, favorável a uma interpenetração (primitivo com o moderno tecnológico) onde ficaria evidente o "país da mistura" que deveria aceitar e assimilar qualquer manifestação de cultura moderna, inclusive estrangeira; na opinião de Miguel, parece mais compatível com o mundo atual. E ressalta "a combinação de misturas que é o Brasil" dotado de incrível capacidade de tomar e transformar a manifestação da cultura moderna e estrangeira, fazendo emergir uma nova "faceta" com a marca da criatividade brasileira (exemplo: carnaval - coreografia, enredo, instrumentos, plasticidade, gente alegre; um somatório de artes entrelaçadas que dão origem a um grandioso espetáculo musical).
O debate acadêmico por certo haverá de continuar, ainda mais em se tratando de um tema tão relevante como é a identidade nacional. Talvez, o grande desafio seja manter essa identidade no campo da música fortalecida o suficiente para não se descaracterizar, apesar da maciça influência estrangeira proveniente da "globalização".
Alexina de Magalhães Pinto / Mario de Andrade
Música Popular e Identidade Nacional
*Gladston Salles
Dissertação apresentada durante o Curso de Pós-Graduação de História e Cultura no Brasil - 2020 - Universidade Estácio - RJ
Fontes Consultadas:
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (UNESP)em 2014
Mário de Andrade
Internet: Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre
Pesquisas Folclóricas – Mário de Andrade
mario- de- andrade.blogspot.com/2009/07
José Miguel Wisnik
Vídeo YouTube – Palavra (En)cantada
www.todamateria.com.br/musicas - folcloricas/
OBS: Esta obra é protegida por direitos autorais. Ao copiar um trecho desta dissertação, mencionar o título e nome do autor.
A presente tarefa é dividida em três tópicos: o primeiro, é a introdução; o segundo, aborda dados históricos e comentários; e o terceiro, o desfecho com uma reflexão.
1 - Introdução
A “mola propulsora” dessa minha modesta dissertação é o fenômeno da diaspórica, caracterizada pela dispersão de um povo ou comunidade pelo mundo. Embora esse deslocamento possa ocorrer de forma voluntária, abordarei especificamente questões relacionadas à forma involuntária, melhor dizendo, forçada. Portanto, o aspecto da violência fica evidente, assim como a condição de vítimas dos homens, mulheres e crianças que sofreram os atos desumanos de escravidão, simplesmente por pertencerem à uma determinada raça ou etnia. Sabemos que o homem é um ser social por natureza, e mesmo em situações adversas de sofrimento e maus tratos, procura de alguma maneira expressar seu inconformismo através de meios criativos, estratégias e artifícios, muitas vezes mirabolantes. Com um “olhar” mais profundo, o historiador/pesquisador encontra no cenário de escravidão ou nos chamados crimes contra a humanidade (exemplo: holocausto dos judeus) manifestações sutis de inconformismo, revolta e preservação de identidade por parte das vítimas. Creio que isso ocorre por que o homem tem dentro de si o anseio de liberdade, condição fundamental para viver com plenitude. A historiografia que aborda a questão do racismo, preconceito de raça ou etnia, discriminação de toda espécie, escravidão e crimes contra a humanidade que acontece no mundo, não me desmente. Vale destacar, a nível internacional, como ilustração, o feito memorável de Nelson Mandela no campo político, que apesar de toda perseguição, violência sofrida e prisão de vinte e sete anos, não esmoreceu e manteve firme o seu ideal de igualdade racial na África do Sul, escrevendo mensagens e instruções para seus liderados, vindo posteriormente a ser eleito o primeiro Presidente negro da África do Sul livre do regime segregacionista do Apartheid. Considerando a diáspora africana, a minha tarefa versará exclusivamente sobre os fatos históricos resultantes da chegada dos escravos africanos ao Brasil. Assim sendo, a multiculturalidade assumirá um papel preponderante. Convém ressaltar que a escravização de pessoas de origem africana no solo brasileiro teve como razão principal a necessidade de mão de obra para cobrir a falta de trabalhadores devido ao crescimento das economias de exportação da cana de açúcar, do algodão, do café, do charque e da mineração.
2 - Dados Históricos e Comentários
Os primeiros escravos negros chegaram entre 1539 e 1542 na Capitania de Pernambuco. Muitos índios também foram escravizados pelos colonizadores europeus, até que surgiu a abolição da escravidão indígena por iniciativa de Marquês de Pombal, no final do século XVIII. A cor da pele negra, a partir daí passou a ser sinônimo de indivíduo inferior, escravo, no sistema de hierarquia social, sendo vistos como mercadorias ou mesmo como animais. O transporte dos escravos negros era feito da África para o Brasil nos porões dos navios negreiros. A escravidão deu origem à formação dos quilombos, que não deve ser entendido apenas como local de refúgio dos escravos fugidios. Não pode ser desprezado a dinâmica social empreendida por esses grupos, pois alguns quilombos foram formados a partir de compra de terras de escravos alforriados, inclusive teve escravos que receberam terras como herança, e outros se fixaram em fazendas abandonadas. Com o passar do tempo os quilombos passaram a ter novos significados e ganharam outra dimensão conceitual na contemporaneidade. O primeiro registro da existência de quilombo é datado de 1597. Por outro lado, o maior deles foi o Quilombo dos Palmares, em Alagoas, liderado pelo famoso Zumbi dos Palmares, cuja morte ocorreu em 1695. Consta na historiografia que o referido quilombo era constituído de aproximadamente 20000 habitantes, de origens étnico- raciais diversificadas, entre os quais negros, negras, indígenas, pessoas pobres, judeus, ciganos, e outros, excluídos, marginalizados pelo sistema colonial. Além disso, era muito organizado e tinha um governo centralizado com uma monarquia eletiva. A sociedade era estratificada. Pela sua grandiosidade, representação e dinamismo, transformou-se num marco de resistência heroica. Vários outros quilombos, embora de menor projeção, se espalharam pelo país e lutaram contra o escravismo e deram sua contribuição para preservação da identidade e cultura do negro africano. Vale ressaltar que ainda existe na atualidade “quilombos” remanescentes, agora com nova configuração, tendo em vista a abolição da escravatura em 1888. Hoje as pessoas que habitam esses espaços são denominadas quilombolas. E o que dizer sobre eles? Bem, apesar de estarmos no Século XXI, os descendentes dos escravizados também enfrentam vários problemas de sobrevivência. É comum a dificuldade de acesso à saúde e educação por exemplo. A característica principal dos povos quilombolas é a ancestralidade africana e a rica cultura daí resultante. Basta assinalar que os remanescentes da região do Quilombo dos Palmares fazem festa no dia 20 de novembro, oficializado como Dia da Consciência Negra. Muitas comunidades quilombolas, ainda hoje, resistem à urbanização, preferindo viver com simplicidade, e em contato permanente com a natureza. Entretanto, são alvo de tentativas de invasão por parte de fazendeiros, madeireiros e grileiros. Na esfera política, existe uma ampla discussão sobre a demarcação de terras quilombolas. Inclusive a Lei Maior no artigo 68 das Disposições Transitórias assegura aos descendentes dos quilombos o direito de posse da terra. Não resta dúvida de que as raízes históricas, as tradições, os costumes, enfim, o rico legado cultural de nossos ancestrais, constituem elementos formadores de nossa identidade nacional. Por isso mesmo, não podem ser ignorados, ou mesmo considerados irrelevantes. Herdamos esses valores, e devemos cultuá-los e preservá-los, pois eles representam uma história escrita com muito suor e sangue. Ouso em afirmar que são fatores que tiveram extrema importância na construção da nação brasileira, tal qual a conhecemos hoje, cuja multiculturalidade e natureza plural é inegável. Talvez, muitos não avaliam a importância dessa preservação, e de forma irresponsável não valorizam nossas raízes, e até mesmo enaltecem o chamado “branqueamento” estilo europeu. São pessoas travestidas de brasileiro, que com seus atos deploráveis incentivam a discriminação e o preconceito racial, numa inaceitável afronta à Constituição Brasileira. Diante desses fatos, creio que a desconstrução do racismo somente se tornará possível quando nos desvincularmos do ciclo vicioso da retórica. Vale dizer, precisamos agir na prática, amparados pelos preceitos constitucionais, e exigir que os direitos dos afrodescendentes sejam respeitados, e repelir com veemência qualquer insinuação de atos discriminatórios. Fala-se muito em “militância”, mas, lamentavelmente, observamos que muitos integrantes de certos grupos, na verdade são aproveitadores que se utilizam do “movimento” com objetivos políticos, ou melhor dizendo, para fins eleitoreiros. É preciso se dedicar à causa com determinação e vigor, sem jamais esmorecer, isento de interesses mesquinhos, e sobretudo encarar como um ideal sublime de igualdade e justiça. Enfim, honrar o legado de nossos ancestrais afrodescendentes.
3 – Reflexão
A identidade afro-brasileira é algo real e indiscutível. Os vínculos que nos une, resultantes da afrodescendência, são verdadeiramente indissolúveis. Não resta dúvida de que a herança africana está enraizada na história e cultura do povo brasileiro. Mas, a desconstrução do racismo na prática requer uma vigília permanente por parte dos interessados. A conquista da igualdade e equidade racial passa por uma profunda reformulação no sistema institucional, no ambiente educacional e na estrutura familiar. Digo isso, por que não basta apenas exigir direitos e o cumprimento de leis constitucionais, a preservação da educação antirracista nas escolas, mas também uma nova concepção de educação infantil no ambiente familiar, pois a família é a célula “mater” da sociedade, e a criança representa o futuro da nação. Até mesmo as conquistas já consagradas estão sujeitas ao enfraquecimento e à indiferença. Há sempre o risco de acomodação, submissão, ou desistência quando uma luta se mostra infatigável. É preciso manter acesa a chama do ideal de igualdade racial acalentado desde a época colonial. A Abolição da Escravatura, datado de 1888, embora tenha sido louvável, deve ser considerada apenas como o “primeiro passo” de uma trajetória de luta que ainda se prolonga. Não se pode confundir abolição de escravo com igualdade racial, esta última é uma condição subsequente, e se encontra ainda em fase de sedimentação num patamar mais elevado. A seguir, abordarei uma questão muito interessante dentro do contexto histórico dos grandes personagens negros que participaram da luta e resistência contra a escravidão. A historiografia não faz menção sobre a participação efetiva de mulheres negras no citado movimento. Apenas algumas citações isoladas, acanhadas e sem o devido destaque. Creio que se faz necessário um reconhecimento das histórias de mulheres negras que deram sua valiosa contribuição de forma efetiva, com risco de perder a própria vida, em prol da luta contra a escravatura. Talvez, possamos considerar esse reconhecimento um resgate dos feitos memoráveis da mulher negra, geralmente colocado em plano secundário, ou melhor dizendo, considerado de valor inexpressivo. Porém, após uma pesquisa mais apurada, encontramos registros da participação feminina de natureza relevante e dignos de nota.
Assim sendo, ressalto com imenso prazer o nome de Luiza Mahin, mulher negra, quituteira, que vendia seus produtos em Salvador, Bahia, no ano de 1830. Muitos, por certo, devem estar curiosos, e se perguntando, o que essa quituteira fazia de tão especial? Eu, lhes digo: algo extremamente valioso e admirável! Com o risco de perder a própria vida, exerceu o ofício de quituteira com propósito revolucionário. Participou ativamente de um dos maiores movimentos de revolta contra a escravidão na Bahia. Desempenhou a função de informante, aproveitando-se da venda de quitutes que oferecia nas casas. De modo disfarçado, promoveu inúmeras articulações com os companheiros, informando sobre reuniões secretas, estratégias e planos de revolta. Além dos recados via oral, entregava bilhetes com informações sigilosas, que foram de grande valia para o início do Levante dos Malês, cujo objetivo era libertar os escravos e praticar o islamismo. Convém esclarecer que Luiza Mahin era mulçumana, e sabia ler e escrever em árabe. Infelizmente, houve traição, e cercados pela polícia no ano de 1835, 70 companheiros morreram no combate. Apesar disso, Luiza não desistiu de seu ideal de libertação, cujo legado, transmitiu a seu filho Luiz Gama, que se tornou jornalista e abolicionista em São Paulo. Ante o exposto, presto minha reverência a essa mulher idealista. Finalizo, debruçado sobre os informes oficiais de que mais de cinquenta por cento da população brasileira se declaram negras... Acho que precisamos despertar para uma nova realidade.
Brasil e os Processos Étnico-Raciais
*Gladston Salles
Fontes consultadas:
Constituição da República Federativa do Brasil
Escravidão no Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre
www.brasilescola.uol.com.br/sociologia/quilombolas.htm
Livro “Festa dos Quilombos” de Glória Moura, Professora de Educação da UNB, disponível em: www.unbciencia.unb.br/humanidades/96-ciencias-sociais/147-livro-mostra-a-importancia-dos-quilombos-na-construcao-identidade-do-brasil
Desconstruindo o racismo na prática – Lumina – Educação para todos – UFRGS - Mulheres negras e resistência: formas de (re)conhecê-las por elas mesmas – Responsáveis: Gládis Elise Pereira da Silva e Kaercher Tanara Forte Furtado – www.lumina.ufrgs.br
(Curso de Pós-Graduação de História e Cultura Afro-Brasileiras – 2021 – Faculdade Unyleya)
*Observação: Esta obra literária está protegida por direitos autorais. Ao copiar algum trecho, cite sempre o nome do autor.
1 – Introdução
“É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito” (Albert Einstein)
O alto nível das aulas e a qualidade dos conteúdos, descortinaram para mim um novo horizonte de conhecimentos. Razão porque faço questão de deixar aqui registrado os meus agradecimentos. Até então, eu estava carente de uma maior compreensão e entendimento sobre os Processos Étnicos-raciais no Brasil. Mas, reconheço que ainda tenho muito que aprender. Encaro a execução desta tarefa 4 como um grande desafio. O que dizer sobre o percurso desta disciplina e as inter-relações entre os diversos conteúdos? Como argumentar minha posição em relação ao movimento decolonial? Como apresentar minhas considerações sobre as possibilidades futuras no campo das relações étnico-raciais no Brasil? O tema é complexo e amplo, mas também apaixonante. Espero que este meu modesto trabalho tenha alguma valia para os estudiosos. Inicio com uma indagação: Devemos nos acomodar com o conceito de que só existe um tipo de raça, a raça humana? Ou devemos perseverar com a luta antirracista, que ainda existe no cotidiano e oprime especificamente os negros? Afinal, quantas “raças” existem no mundo? A cor da pele determina a superioridade do ser humano? E se todos os seres humanos tivessem a mesma cor de pele? Por certo, nesse último caso, nenhuma significância teria a cor da pele, vale dizer, nas relações humanas, ninguém assumiria uma postura racista baseada na cor da pele do seu semelhante. Mas, não podemos fugir da realidade em que vivemos. Não podemos viver no mundo das conjecturas e subjetividades. O mundo é palpável e real, e estamos inseridos nele. Cabe-nos levantar a bandeira da igualdade, liberdade e fraternidade entre todos os homens que integram a família universal. Não podemos ficar passivos diante de tantas injustiças e desumanidades. Não podemos ignorar o RACISMO ou fingir que ele não existe. É sabido que o estudo das características métricas e morfológicas do crâneo humano foi usado para discriminar as diferentes “raças humanas.” A morfologia do crâneo como parâmetro começou por iniciativa de Blumenbach (1752-1840). Tais estudos, deram origem a frenologia, considerada atualmente uma pseudociência. No campo da antropologia, muitos estudiosos consideram o conceito de raça estático e estéril devido ao fato dos fenômenos serem extremamente dinâmicos, bem como a questão da variabilidade humana e a evolução do homem. Assim sendo, a ciência reformulou seu modo de se referir às populações humanas, passando a considerar a existência de uma única espécie: o Homo sapiens. Fato que deu ensejo a mudança de “raça” para ancestralidade; tendo sido levado em conta também o fenômeno da globalização que alterou a classificação das características fenotípicas. No âmbito das pesquisas mais avançadas ( testes genéticos e moleculares na esfera da antropologia molecular ), os testes que analisaram as proteínas no sangue coletado de diferentes populações (estudo do professor Richard Lewontin, da Universidade de Harvard,1972 ), não mostraram diferenças substanciais no campo molecular para disjunção de raças humanas ( sequencia básica no DNA humano é 99,9 idêntica, segundo estudos posteriores ). Mas, indiferente à essas constatações científicas, genocídios foram praticados com motivações racistas, e, eu consciente do que acontece na atualidade, creio que, embora sejamos iguais, independente da cor da pele, não podemos deixar de atuar de modo permanente pelo fim da desigualdade de cunho racial. Nossa luta é justa, legítima, e, deve perdurar, caso necessário, até o fim dos tempos. É inadmissível, em pleno século 21, o estabelecimento de hierarquia entre as raças e etnias. A doutrina da supremacia de uma raça sobre outra, deve ser repelida com o devido rigor. Os discursos alicerçados em supostas diferenças biológicas entre os povos, e que incentivam o preconceito e discriminação, são mazelas que envergonham a humanidade como um todo. Qualquer tipo de ação humana ou sistema político que estabeleçam critérios superiores ou inferiores de acordo com a categoria racial não podem prosperar, sob pena de nos tornarmos indignos de pertencer ao chamado mundo civilizado. Até mesmo os critérios subjetivos que caracterizam os estereótipos, tão comuns, e muitas vezes considerados irrelevantes, enraizados nos hábitos e costumes da malha social, e que subordinam a identidade individual a identidade de grupo, devem ser encarados como inaceitáveis, isso porque carregam na sua essência o juízo de valor geralmente negativo, e alimentam o racismo, embora de forma sutil. No que se refere à discriminação, propriamente dita, a Constituição brasileira, no seu artigo 5º parágrafo XLII, dispõe que “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”, porém, na maioria dos casos a prática do racismo é tratada como preconceito, o que penalmente não constitui crime. E o que dizer sobre a situação do negro no mercado de trabalho? Ora, a luta é inglória. Ele é tratado como um ser inferior, e, portanto, as chances de uma boa colocação é muito reduzida, mesmo que tenha formação adequada e compatível com o cargo a ser exercido tem de enfrentar barreiras quase intransponíveis. Geralmente, a oferta recai sobre ocupações de baixa escolaridade e pequenos rendimentos. Até parece que existe um padrão pré-estabelecido em termos de trabalho para o negro. E quando um negro por mérito próprio alcança um patamar mais elevado, socialmente, é visto como uma exceção. É como se ele tivesse “quebrado uma regra”. A velha expressão de cunho racista, “ponha-se no seu lugar”, muitas vezes ainda é dita, e fere profundamente como uma navalha. A ascensão social do negro, quando acontece, geralmente é no mundo dos esportes e mundo artístico, marcado pelo sucesso profissional no futebol e no samba, domínios nos quais encontra maiores chances de ascensão. É fato notório que o preconceito e a discriminação incentivam as desigualdades raciais, portanto, devem ser repelidos. Uma sociedade justa e humana não pode tolerar uma hierarquia social com base na cor da pele do indivíduo. Nem se pode admitir que digam que uma sociedade é meritocrática, quando sabemos que as oportunidades não são iguais para todos. Infelizmente, o desrespeito às leis, vigora em nosso país. A Constituição Federal garante a igualdade entre os cidadãos, sem distinção de qualquer natureza, mas na prática a discriminação tem sido “assunto do dia”. Tal fato causa perplexidade e revolta. Ainda mais, porque o preconceito e a discriminação, contrariam frontalmente os princípios basilares dos direitos humanos e da dignidade da pessoa humana. Dento desse contexto, é oportuno destacar a Declaração Universal dos Direitos Humanos que enfatiza a necessidade imperiosa da existência de direitos básicos que assegurem ao ser humano viver em sociedade com dignidade. Os direitos humanos, quando respeitados, garantem uma relação harmônica entre os indivíduos na sociedade, e fortalecem a paz social, o que resulta numa convivência produtiva. Diz-se que a dignidade é um atributo da pessoa humana, inclusive consagrada desde a concepção no útero materno. E não é só um direito, mas também um princípio de hermenêutica (hermenêutica jurídica é o ramo da hermenêutica que se ocupa da interpretação das normas jurídicas, estabelecendo métodos para a compreensão legal – Wikipédia, a enciclopédia livre). O próprio conceito de dignidade da pessoa humana constitui Cláusula Pétrea na Carta Magna, sendo um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito (vide artigo 1º, inciso III, da Constituição brasileira), o que demonstra a sua vital importância. Vejam bem, a Cláusula Pétrea é um artigo constitucional que não pode ser alterado. No entanto, na prática, vale dizer, na sociedade onde o indivíduo vive e exerce a sua cidadania, esse mesmo dispositivo legal é frontalmente contrariado, ou melhor dizendo, desprezado e ignorado. Razão porque faço uma pergunta: de que adianta ser uma Cláusula Pétrea? Melhor que fosse consignada como uma “letra morta”. Levando em conta que a dignidade da pessoa humana equivale a um princípio supremo, cabe ao Estado não ficar omisso, e garantir essa condição. Que fique claro tratar-se de dignidade da pessoa humana, e não dignidade de pessoa branca, negra, parda ou amarela. Portanto, é inadmissível ofender a dignidade de uma pessoa humana através de discriminação e preconceito porque ela tem a cor da pele negra, e por ter essa condição epidérmica, considerada um ser inferior. Não há nada que justifique essa hierarquização racial que encontramos na sociedade vigente. Embora a miscigenação histórica tenha provocado uma grande diversidade de cores de pele, não foi capaz de eliminar o racismo, que ainda existe no país. A gente percebe um racismo dissimulado com frequência, talvez porque existe uma legislação que o condena com pena de reclusão, embora quase nunca isso aconteça na prática. O que se vê, esporadicamente, é a tipificação de preconceito. A verdade é que não vivemos num paraíso racial. O racismo precisa ser discutido com profundidade e seriedade, sem dar espaço a piadas oportunistas, que têm como objetivo mudar o foco da discussão. O enaltecimento sistemático da beleza vinculada ao branco europeu, deu origem a um padrão de beleza sem fundamento lógico, que colocou num patamar inferior ou exótico toda e qualquer apreciação da beleza do corpo de pele negra. Com a miscigenação surgiram novos termos como mestiço, moreno e mulato. Na verdade, alternativas de identificação da cor de pele para “embranquecer” a cor negra. Tal fato, deu ensejo para que o mito da democracia racial fosse difundido sustentado pela imensa variedade de tons de pele. No âmbito das estatísticas, o racismo marca presença de forma alarmante. Segundo o IBGE, a população negra é principal vítima de homicídio no Brasil (entre 2012 e 2017, foram registradas 255 mil mortes de negros por assassinato; em proporção, negros têm 2,7 mais chances de ser vítima do que brancos – Revista Exame, publicado em 13/11/2019). Na mesma reportagem, Luanda Botelho, analista de indicadores sociais, afirma “que enquanto a violência contra as pessoas brancas se mantém estável, a taxa de homicídio de pretos e pardos aumentou em todas as faixas etárias”. Mais adiante, a citada reportagem acrescenta que “entre os jovens brancos de 15 a 29 anos, a taxa era de 34 mortes para cada 100 mil habitantes em 2017, último ano com dados de mortes disponíveis no DataSus. Entre os pretos e pardos, eram 98,5 assassinatos a cada 100 mil habitantes”. O portal RDB (Rede Brasil Atual) em reportagem publicada no dia 20/06/2019, na coluna Cidadania, com o título “Pesquisa IBGE mostra que educação brasileira ainda não é para todos”, afirma que “a dívida histórica do país com a educação de seu povo é ainda maior com a população negra. Enquanto 3,9 da população branca com 15 anos ou mais é iletrada, o percentual sobe para 9,1 entre os negros. Entre os brasileiros analfabetos com mais de 60 anos, 10,3% são brancos. E 27,5% são negros”. E, qual é a situação do negro no mercado de trabalho? Segundo o jornal Correio Braziliense, em reportagem publicada no dia 17/11/2019, na Coluna “Trabalho e Formação”, com o título “Negros ocupam cargos com menor remuneração no mercado de trabalho”, entre outras coisas, afirma que “entre os principais obstáculos para a inserção estão o preconceito e dificuldades de acesso à educação.” Adiante, acrescenta: “O angolano Vinda Daniel Afonso, popularmente conhecido como DJ Afrika, 36 anos, mora no Distrito Federal desde 2004 e conta que teve dificuldades para se inserir no mercado de trabalho, mesmo sendo capacitado. Eu falo cinco idiomas e, mesmo assim, foi difícil para arrumar emprego. Participava de processos seletivos em que o perfil da vaga era compatível com o meu, mas eu não era o escolhido, conta o empresário. Formado em administração de empresas pela União Pioneira de Integração Social (Upis), atualmente, Afrika é DJ e trabalha na área de Tecnologia da Informação (TI). A dificuldade enfrentada por ele é comum para muitos negros no Brasil, como mostram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar de constituírem 55,8% da população, a representatividade no mercado de trabalho ainda é baixa”.
2 – Inter-relações entre os diversos conteúdos da disciplina
As inter-relações dos conteúdos da disciplina “Brasil e os Processos Étnicos-raciais”, bem demonstram as opressões, o sofrimento, a discriminação e o preconceito que atingiu o negro desde sua chegada ao Brasil na época da colonização realizada pelos europeus. O que chama atenção é que os indivíduos de pele da cor negra, ainda hoje, são vítimas de diversas formas de desigualdades raciais. Estamos no século 21, entretanto, muita coisa ainda precisa ser feita no sentido de erradicar de vez essa mazela que mancha a história da nação. Um fato muito comum que impede um avanço significativo na desconstrução do racismo é a omissão do Estado e o fingimento por parte das pessoas brancas de que a discriminação e o preconceito não existem. Esse silêncio e omissão constitui um ato criminoso. Desde a época colonial, a hierarquia racial se manifesta restringindo a mobilidade e ascensão social do negro. O eurocentrismo, ainda hoje, configura uma realidade perversa. Por outro lado, a necropolítica esmaga a população preta e pobre. A falta de saneamento básico, e a precariedade dos demais serviços essenciais nas periferias e comunidades carentes, onde predomina a presença das pessoas de pele negra, é um fato inegável. As desigualdades étnico-raciais alcançam a esfera da subjetividade e objetividade, tendo em vista a violência e a pobreza, e a triste memória do sofrimento. Para o negro, essa memória constitui um pesado fardo que ele carrega dentro de si. Uma espécie de grito sufocado na garganta, uma ferida que sangra sem parar. Ele olha para o céu, e clama por justiça. Quem sabe, talvez uma ajuda divina seja providencial. Rememorando os fatos, verificamos que o negro enfrentou diversas formas de sofrimento. O Código Criminal de 1830 que estabeleceu punições severas, promoveu açoites em praça pública, uso de ferros, encarceramento e mesmo pena de morte. Ao pesquisar a historiografia da escravidão do negro, muitos a denominam de “holocausto negro”, tamanha a crueldade implementada. Convém assinalar que, aproximadamente, cerca de 5 milhões de africanos foram trazidos para o Brasil durante o período de escravidão. O nosso país foi o principal importador de escravizados, e também o último a abolir a escravatura. Mas, precisamos atentar para o fato de que, embora a escravidão tenha ocasionado pesadas limitações aos escravizados, estes não assumiram uma completa submissão. Na busca de um meio para amenizar o sofrimento, os escravizados fizeram uso da criatividade para expressar a sua individualidade e os hábitos e costumes tradicionais de suas raízes africanas. Tais atitudes podem ser encaradas como “resistências” observadas, por exemplo, nas senzalas, ambientes domésticos e quilombos. Mesmo após a abolição da escravatura, essas “resistências” se evidenciaram diante das discriminações e preconceitos, e ainda hoje se faz presente na sociedade. Segundo Zabala (2018), evidências históricas e arqueológicas mostram que os escravizados sempre utilizaram meios de se readaptarem no Novo Mundo, procurando manter acesa a chama de suas tradições e costumes (teoria da “crioulização”). Não confundir com “aculturação”. Christopher Fennell (2013) assinala com muita propriedade que rituais característicos da cosmogonia africana Bakongo foram reinventados em contextos arqueológicos norte-americanos por escravizados sequestrados. Thereza Singleton (2005) através de análise no Cafetal del padre, em Cuba, mostra como os escravizados desenvolveram atividades de acordo com suas necessidades culturais (cultivo de vegetais e criação de animais domésticos para consumo e para venda). Outros trabalhos similares, abordaram a questão da clandestinidade como estratégia, e cito como exemplo as atividades religiosas das pessoas escravizadas feito “às escondidas”. Ao abordar outro cenário, Angela Davis (2005) fala sobre a importância das atividades domésticas (cozinhar, costurar e cuidar de crianças) na vida social de pessoas escravizadas, que tinham o significado de humanização dentro do contexto do cativeiro. Com relação aos chamados “escravos de ganho” que circulavam pela cidade vendendo diversas coisas, portanto longe dos domínios senhoriais, não resta dúvida de que possibilitaram a multiplicação das ações de resistência. No que se refere à denominada escravidão “branda” no sul do Brasil (pampa), diversos estudiosos afirmam que tal alegação não pode prosperar. Isso porque, os escravizados ao serem enviados para trabalhar nas charqueadas sofriam os efeitos nocivos do contato do corpo com o sal para a produção da carne seca. Além disso, o local pútrido da matança do gado, era mais um fator que contribuía para o surgimento de doenças e menor expectativa de vida dos escravizados. Importante mencionar que o regime de trabalho escravo era de 16 horas por dia, descalços e enfrentando a umidade e o sal no corpo. De acordo com Vargas (2014), “o charque era usado como alimento dos escravizados de todo Brasil, assim como da população mais pobre, daí sua enorme importância”. Várias ações de resistência, estratégias, mudanças de comportamento e interações sociais, no contexto da escravidão, como por exemplo, as relações de compadrio abriram novas perspectivas através do estabelecimento de laços com escravizados e escravizadas de outras propriedades. O que nos faz pensar no compadrio e batismo, nesse caso, como uma ação política capaz de proporcionar benefícios materiais, melhor posição social e até mesmo liberdade, em virtude das alianças estabelecidas. Também, não podemos esquecer que as relações sociais entre as pessoas negras aconteceram de forma dinâmica nos contextos livres dos quilombos, que não devem ser considerados apenas como locais de refúgio dos escravos fugidios. Entre os quilombos, o maior foi o Quilombo dos Palmares, em Alagoas, liderado pelo famoso Zumbi dos Palmares. Consta na historiografia que era constituído de aproximadamente 20000 habitantes de origens étnico-raciais diversificadas, e possuía um governo centralizado e monarquia eletiva. As pessoas que habitam os espaços dos antigos quilombos, atualmente são denominados “quilombolas”, cuja característica principal é a ancestralidade africana. Com referência às teorias racistas, vale ressaltar, que desde a metade do século XIX se fundamentaram no racismo científico, caracterizado pela humanidade dividida em raças, de acordo com uma hierarquia biológica, onde as pessoas brancas ocupariam uma posição superior. Com base nesse princípio a nação brasileira, marcada por um grande processo de miscigenação, era vista como um “agregado de raças” em transição. O que equivale a dizer, que após uma seleção natural (cruzamento x depuração), o Brasil no futuro se tornaria branco. Em consequência, o sentimento de inferioridade racial foi instalado pelo racismo científico. Entre os intelectuais, a discussão a respeito foi emblemática. Havia os que consideravam a miscigenação uma degeneração capaz de impedir que o povo brasileiro se tornasse civilizado. Para outros, a miscigenação provocaria uma melhora progressiva com a inserção de traços brancos na população, o que levaria a uma regeneração racial. Esta última noção, incentivou a entrada massiva de imigrantes europeus no Brasil. Um dos grandes defensores do determinismo biológico foi Vianna (1934) que fez afirmações, as quais, tomo a liberdade de discordar. A seguir transcrevo as ditas afirmações: “não há associação possível entre civilização e negritude”; “o negro sempre foi subordinado aos povos de raça branca com os quais entraram em contato”; e “haveria um tipo antropológico provável para um coeficiente alto de predisposições patológicas”. Ora, a xenofobia tem sido algo marcante na Europa. Mas, segundo vários pesquisadores, o continente europeu não era um reduto exclusivo de caucasianos. Diz o historiador português Francisco Bethencourt, Professor do King’s College de Londres, e autor de Racismos: das Cruzadas ao século 20: “A variedade de etnias existia na Europa desde a pré-história, com intensas migrações da Ásia, mas também do Oriente Médio no período clássico, grego e romano. O tráfico de escravos da África era dirigido ao Oriente Médio, mas também para a Europa”, e acrescenta ainda, que havia preconceito étnico difundido, mas a ação discriminatória era esporádica. Segundo a historiadora Pamela Patton, da Universidade Princeton, é preciso considerar a maneira como os europeus medievais definiam a raça. “Exceto quando se deparou com pessoas com aparências muito diversas das deles, como os africanos subsaarianos, os europeus tendiam a olhar mais para as práticas culturais, como religião e linguagem, do que para características biológicas ou físicas.” No império romano, o preconceito estava ligado à linhagem e descendência. Porém não existem provas de uma discriminação sistemática contra etnias específicas. Pelo contrário, os romanos eram relativamente generosos na atribuição da cidadania” (Bethencourt). Muitos pesquisadores fazem referência ao fato de que, no século 16, um décimo da população em Lisboa era de negros. Estudos indicam que o racismo surgiu de fato no século 17. A forma primitiva do colonialismo no ocidente, caracterizada pela escravidão, está sempre vinculada à história do racismo. Dentro desse contexto, acredito que não se pode descartar a tese de que a ideia de raça tenha sido criada para designar os povos não europeus que foram dominados e governados pelos europeus. Convém destacar ainda, que o sistema escravocrata tinha como fundamento a economia. Quanto à afirmação de que “não há associação possível entre civilização e negritude” (Vianna), acho muito infeliz e descabida. Isso porque, entendo que o processo de civilização não depende da cor da pele dos seres humanos nela envolvidos. A cor da pele não pode ser sinônimo de superioridade ou inferioridade. Repudio também com veemência, a afirmação de que “haveria um tipo antropológico provável para um coeficiente alto de predisposições patológicas” (Vianna). Afinal, basta ter a pele negra para representar potencial perigo para a sociedade? Entendo que não. E você? Por outro lado, concordo quando Abdias do Nascimento ressalta o “embranquecimento cultural” como estratégia de genocídio do povo negro, levando em conta que: “ em adição aos órgãos do poder – o governo, as leis, o capital, as forças armadas, a polícia - as classes dominantes têm à sua disposição poderosos implementos de controle social e cultural: o sistema educativo, as várias formas de comunicação de massas – a imprensa, o rádio, a televisão- a produção literária...” (NASCIMENTO, 2016). Muitas outras interpretações sobre o tema serviram para não deixar a questão “adormecida”, e provocaram novos posicionamentos, fora do campo da antropologia e biologia. Vale a pena citar o livro ‘Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freyre, que se tornou referência nos estudos sobre as relações étnico-raciais no Brasil. Uma ideia de democracia racial emergiu devido a influência da religião católica não rígida, e com um “cristianismo doméstico” poético e festivo. Dentro desse contexto, os batizados, os casamentos, as novenas, as procissões, e outros eventos, resultaram num elo de confraternização entre as duas culturas: a do negro e a do senhor. Tais acontecimentos eram capazes de suavizar o sofrimento da escravidão. Segundo Freyre, a miscigenação biológica e cultural, faria surgir uma nova cor de pele: a “morena”, que seria enquadrada na categoria de “morenidade”. Para Florestan Fernandes, entretanto, o conceito de “democracia racial” deve ser repelido, isso porque não abre espaço para uma postura capaz de incrementar esforços no sentido de uma sociedade moderna e verdadeiramente democrática no campo político e social. Além do mais, o envolvimento nessa ideologia de “democracia racial” dá origem a uma tolerância convencionalizada. Vários outros pensadores deram sua contribuição ao abordarem o tema, possibilitando assim o enriquecimento do debate.
3 – Posição em relação ao Movimento Decolonial
Giro decolonial é um termo cunhado originalmente por Nelson Maldonado-Torres em 2005 e que basicamente significa o movimento de resistência teórico e prático, político e epistemológico, à lógica da modernidade/colonialidade (Google).
Ao abordar o tema, inevitavelmente, elementos da realidade brasileira convergem com a realidade africana. Nesse contexto, “novos olhares” são debruçados sobre as culturas colonizadas no contato com a modernidade. Fato que chama atenção é que as marcas da colonização no continente africano persistem, vale dizer, criaram raízes visíveis. Como exemplo, menciono que os idiomas oficiais são línguas impostas pelos colonizadores. Por outro lado, os colonizadores europeus também se defrontaram na “zona de contato” (encontro de diversas identidades culturais) com o fenômeno da “transculturação”. Os reinos africanos foram dominados e enfraquecidos pelos colonizadores ingleses e franceses. Convém ressaltar que o neocolonialismo exerceu grande influência na área política, cultural, e econômica no continente africano, provocando resistência dos colonizados. Na busca da identidade africana, emergiu o processo de independência dos países africanos, dando origem ao denominado pós-colonialismo. A resistência anticolonialista, também se verificou na América Latina, onde o neocolonialismo também se instalou. Não resta dúvida de que o povo africano ao sofrer o domínio colonizador perdeu sua genuína identidade cultural, e com isso manifestou um sentimento de inferioridade. O colonizador se impõe, não apenas com sua “branquitude”, mas também com seus valores próprios, provocando nos colonizados o sentimento de inferioridade racial, econômica, bélica, linguística e cultural. Com referência ao pensamento decolonial, é importante salientar que ele busca uma ruptura com os valores introduzidos pelos colonizadores, no sentido de fazer renascer os valores genuínos dos colonizados. O eurocentrismo colonial dividiu os humanos em raças, e classificou os não europeus como seres inferiores, e dessa maneira, impuseram a cultura europeia. Convém destacar a Conferência de Bandung de 1955, onde mais de 20 países do continente africano se fizeram presentes, e através de seus representantes, criaram um projeto visando um futuro que não fosse nem capitalista nem comunista. A opção foi a descolonização. Todavia, não nos esqueçamos de que o projeto decolonial para ter êxito necessita de recursos educacionais e políticos para dar voz aos subalternos. Portanto, as ações pedagógicas decoloniais são muito importantes, assim como as articulações políticas. Deixando de lado a retórica, o pensamento decolonial busca ocupar um espaço para promover uma ação transformadora. Isenta de dogmatismo ou extremismo, se assenta no pensar pluriversalmente. Especificamente, com relação ao Brasil, constatamos que ao longo da história, a elite constituída de brancos e branqueados sempre tiveram o privilégio de exercer a cidadania com plenitude, deixando os negros, mestiços e indígenas na periferia como excluídos, e sofrendo as agruras da pobreza e do racismo. O pensamento decolonial visa a desconstrução da ideia eurocêntrica, e propugna por uma sociedade mais justa e humana. Porém, isso não significa descartar o que já foi institucionalizado. Mas, não aceitar a padronização das relações sociais, dos saberes e das culturas dos povos. É opor-se, sobretudo epistemologicamente. Com isenção de ânimo, e deixando de lado qualquer conotação política, vejo que o Brasil começou a dar alguns passos significativos no reconhecimento da ontologia e epistemologia dos povos africanos e seu valor na formação do povo brasileiro. Como exemplo, cito a Lei 10639/2003 que torna obrigatório o tema “História e Cultura Afro-brasileira” na grade curricular da rede de ensino, assim como as cotas sociais. Não obstante serem pontuais, abrem caminho para amplas formas de inclusão. Ante o exposto manifesto minha concordância com o movimento decolonial. Como posso ser contra um movimento que tem como objetivo, entre outras coisas, a inclusão social do negro, que ainda hoje sofre discriminação racial e preconceito? Como posso ser contra um movimento que não aceita o discurso dominador eurocêntrico, e que reivindica uma sociedade onde todos possam exercer plenamente a cidadania? Enfim, como posso ser contra um movimento que luta por uma sociedade alicerçada nos princípios da equidade e da justiça? O movimento decolonial deve ser fortalecido pelo apoio de todos aqueles que sonham com uma nação plural, sem nenhum tipo de desigualdade étnico-racial.
4 – Considerações sobre as possibilidades futuras no campo das relações étnico-raciais no Brasil
As desigualdades coloniais entre brancos e negros, por incrível que pareça, ainda persistem revestidos de uma nova “roupagem”. E não devemos ignorar esse fato ou achar que são apenas resquícios de discriminação racial e preconceito já ultrapassado na sociedade vigente. Em pleno século 21, o negro ainda sofre opressões e sente os efeitos da exclusão social. Embora as diversidades étnico-raciais seja um fator preponderante no contexto da brasilidade, muito ainda precisa ser feito para que o negro exerça o papel de cidadão com plenitude. Numa demonstração de afronta à Constituição brasileira que pune o racismo, na prática, vale dizer, no cotidiano os atos discriminatórios e preconceituais são reais e palpáveis, e precisam ser banidos. De que adianta a Carta Magna preconizar a dignidade da pessoa humana (art.1º Dos Princípios Fundamentais) como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, e dispor que um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil é “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art.3º Dos Princípios Fundamentais), se tais dispositivos legais não são respeitados, e até considerados por muitos como “letras mortas”? Por outro lado, o discurso da miscigenação como meio de produção de identidades nacionais deve ser menosprezado, tendo em vista que dá origem a ambiguidades entre os debates sobre raça e políticas de “branqueamento”. Não resta dúvida de que instrumentos biopolíticos e necropolíticos no ambiente social, durante séculos, concederam privilégios aos brancos, e enquadraram o racismo como algo natural, fazendo com que as pessoas negras no período pós-abolição carregassem o pesado fardo da herança escravocrata. Aliás, a pós-abolição, não proporcionou aos negros condições dignas de sobrevivência. As populações negras livres foram relegadas ao abandono, e se abrigaram nas periferias. O acesso às escolas e fábricas era priorizado para os imigrantes europeus. Razão porque os negros sem a devida qualificação eram mal remunerados na execução de trabalhos que geralmente exigiam força física, e eram considerados inferiores. Convém ressaltar, que mesmo após a independência e abolição dos escravos, o negro foi vítima da exclusão social, não obstante, inexistirem normas legais regulando de forma institucional as relações étnico-raciais. A historiografia também registra que em 15/12/1890, o Presidente da Confederação Abolicionista e o Administrador da Recebedoria requisitaram todos os documentos relacionados aos escravos para serem queimados com o propósito de eliminá-los totalmente, afim de ocultar as crueldades praticadas contra os escravos pela elite escravagista durante o período de trezentos anos. Fica constatado que a história da nação brasileira foi escrita com suor, sangue, morte e sofrimento. Na atualidade, verificamos inúmeros fatos que demonstram a situação injusta em que os negros se encontram. A maioria da população negra exerce ocupações subalternas, como a atividade de empregadas domésticas. A perseguição policial é mais atuante contra os indivíduos de pele da cor negra, cujas mortes atingem níveis elevados devido as incursões em comunidades carentes. De modo geral, os citados indivíduos recebem penas maiores do que aplicadas a outros. Inclusive, para muitos pesquisadores, o que vem ocorrendo é um encarceramento em massa da população negra. Em termos de moradia, as residências localizadas em locais de melhor infraestrutura são ocupadas pelas pessoas brancas, enquanto os negros são maioria nas comunidades carentes. A desigualdade se torna mais evidente, quando examinamos os dados estatísticos do IBGE com o indicativo de que os negros são a maioria da população brasileira. Na questão do ensino, estatisticamente, os negros ocupam posição abaixo dos brancos, com índice alarmante no ensino superior de 24,9% para os brancos e 11,8% para os negros (índice de escolarização de 2015). De acordo com o Prof. Claudio Carle (2019) nos programas de pós-graduação em IES públicas, a maioria são brancos de classe média e média alta. Carvalho (2006), por sua vez, assinala que pesquisas na área dos docentes da USP, UNICAMP, UFRJ e UFRGS indica que professores negros/negras é menor que 0,2%. Universidade de Santa Catarina seria perto de 0,5%, e Universidade de Minas Gerais em torno de 0,7%. Em outra instância, observamos que determinados veículos como a arte fotográfica, a televisão e o cinema, têm atuado junto à população em geral, difundindo a hierarquia fenotípica, o que constitui algo que deve ser objeto de repulsa por aqueles que almejam uma nação plural isenta de desigualdades raciais. As universidades brasileiras também têm sido alvo de críticas pelo fato de privilegiar a epistemologia ocidental. Apesar de alegarem neutralidade, percebe-se que existe hierarquia do poder raciais hegemônicas no meio universitário. Chama atenção também o reduzido número de professores(as) negros nas universidades. No sistema de ensino, a referência de autores negros é quase inexistente. Segundo o IBGE, a influência da cor da pele é real no cotidiano. Numa pesquisa realizada em 2008 no território nacional, os entrevistados que responderam “sim” à pergunta, alcançou o índice acima de 50%, sendo que no Distrito Federal, o índice foi de 77%. No que se refere à linguagem atual, inúmeros termos considerados racistas estão enraizados no vocabulário desde longa data, e são utilizados com naturalidade. Como ilustração, apresento alguns exemplos: Mulata - que provém de mula, cruzamento de burro com égua. Designava a filha bastarda de homem branco com mulher negra, geralmente escravizada. Denegrir – significado negativo associado com “negro”. Outras expressões similares são ovelha negra, lista negra, mercado negro, magia negra, etc. (Otto,2020). Existem pensadores, porém, que consideram o “politicamente correto” um exagero. No tocante à consanguinidade, importante enfatizar que não significa uma garantia de postura decolonizadora. É muito comum alguém alegar que é parente, mesmo distante, de uma pessoa negra como justificativa do seu não racismo. Entretanto, não é seu grau de parentesco, nesse particular, que serve como garantia de seu posicionamento. Nesse contexto social ainda sombrio, marcado pela discriminação racial e preconceito, não podemos deixar de reconhecer alguns exemplos positivos, que demonstram que nem tudo está perdido. Cito a Constituição brasileira de 1988 que oficializou o direito à terra de indígenas e afrodescendentes, assim como o direito à educação culturalmente específica. A Lei 12288 de 2010, que criou o Estatuto da Igualdade Racial. As Ouvidorias Permanentes em defesa da igualdade racial, e acesso garantido à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário. A Lei 12771 sancionada em 2012, que estabeleceu critérios para repartição de vagas no ensino superior com uma quota para critérios étnico-raciais e socioeconômicos. A Lei 10639/2003 que tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Africana e Afro- brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio de todo o país. A oficialização do Dia da Consciência Negra (20 de novembro), através da Lei Federal 12519 de 2011. Especificamente, com relação à Lei 12771 (cotas nas universidades) tem sido motivo de muitas controvérsias dando relevo ao conceito da meritocracia. O debate sobre as questões relacionadas às relações étnico-raciais no Brasil é extenso, e se arrasta desde longa data sem um ponto final na prática da discriminação racial e preconceito. Apesar de reconhecer a existência de inúmeras barreiras, creio que não são intransponíveis. Assim sendo, acredito que a desconstrução do racismo é possível, desde que não seja contaminada por ideologias políticas, e que o principal personagem, o negro, tenha auto estima e consciência do seu valor como cidadão, e se imponha, exercendo os seus direitos garantidos pela Constituição. Além disso, acho que é imprescindível que a pessoa branca reconheça seus privilégios da “branquitude”, e participe de forma solidária e efetiva desse movimento de desconstrução do racismo. As posturas e práticas antirracistas devem ser transparentes e destemidas. Por outro lado, a pessoa negra não pode incorrer no mesmo erro de ser racista. Acrescenta-se ainda o fato de que a pessoa negra, muitas vezes, demonstra conformismo com sua situação de submissão. Antes de finalizar, gostaria de conclamar todas as pessoas de bem, os cidadãos, para participar da desconstrução do racismo no Brasil. Mas, sem radicalismo, violência, ideologia política, e sim com o diálogo e perseverança.
*Gladston Salles
Fontes consultadas:
Racismo: como a ciência desmantelou a teoria de que existem diferentes raças humanas. www.bbc.com/portuguese/geral-53325050
Racismo - Wikipédia, a enciclopédia livre
Estereótipos, preconceito e discriminação racial.
www.grupos.moodle.ufsc.br>mod4_unidade2_texto5
Constituição da República Federativa do Brasil
O preconceito e a discriminação da sociedade ante os estereótipos dos criminosos (Renata Caetano Romanelli e Wagner Saraiva Ferreira Langruber Boechat – Revista Direito em Foco – Edição nº10 – Ano 2018 – www.portal.unisepe.com.br>uploads>sites>2018/07>00...PDF
Revista Espaço Acadêmico – nº202 – março/2018 – mensal – Ano XVII – ISSN 15196186 “O pensamento decolonial: análise, desafios e perspectivas” – Maurício de Novaes Reis e Marcilea Freitas Ferraz de Andrade
Revista Humanidades e Inovação V.6, N-7- 2019 – “A contribuição do pensamento decolonial na afirmação da cidadania” (Alaides Cardoso Dias, Sirlene Maria da Silva Alves e Leila Dias P. do Amaral)
(Curso de Pós-Graduação de História e Cultura Afro-Brasileiras – 2021 – Faculdade Unyleya)
*Observação: Esta obra literária está protegida por direitos autorais. Ao copiar algum trecho, cite sempre o nome do autor.
Considerações:
Não resta dúvida de que o avanço tecnológico provocou transformações radicais no diálogo entre a fonte e o jornalista. Como exemplo, cito o uso do celular que é uma ferramenta que supera inúmeras barreiras, antes consideradas intransponíveis. Por outro lado, a universalização do uso do computador permitiu o acesso a um sistema de informações complexo e gigantesco, disponível 24 horas por dia para qualquer usuário. Basta o internauta dar um clique, e pronto, um novo mundo se descortina: o mundo digital. Numa análise mais abrangente, podemos afirmar que as novas tecnologias de informação e comunicação revolucionaram as interações entre os seres humanos.
Questão 1: Como o uso do celular e de grupos de WhatsApp franquearam o acesso às fontes e oportunizaram a proposição de pautas?
Resposta: Bem, acho que essas são as perguntas principais para um exame mais apurado sobre a questão proposta. Os resultados das práticas desses meios de interação e comunicação direta são capazes de provocar um impacto assombroso e influenciar na mudança de pensamento e comportamento dos indivíduos na sociedade. O uso do celular pela sua praticidade e recursos, derrubou os osbstáculos que impediam o livre acesso às fontes. Quanto ao potencial do grupo de WhatsApp, dispensa comentários, devido ao seu indescritível poder de aglutinar pessoas para dialogar entre si, propor novas ideias, fomentar discussões, compartilhar notícias, mensagens, fotos, vídeos, etc. É oportuno mencionar que as redes sociais (com destaque para o Facebook e Twitter) exercem maior influência no desdobramento de notícias por terem popularizado a busca desenfreada de informações de modo contrário ao padrão do jornalismo tido como moderador. No mundo atual, o jornalismo online, é uma realidade incontestável, e o assessor para alcançar bons resultados em suas ações deve manter um bom elo de comunicação com os jornalistas e com os chamados “bloggers”.
Questão 2: Como avalia o jornalismo participativo, que deu a “todos” a prerrogativa de postar conteúdo e as consequências para a função primordial do jornalismo que é a mediação?
Resposta: Ouso em criticar Irons (2011) pelo fato de ter assinalado que “As comunicações tradicionais continuam a ganhar às redes sociais”. Isso porque, essa afirmativa em nada contribui para uma análise mais abrangente e enriquecedora. Não há que se falar em competição. Pelo contrário, as comunicações tradicionais e as redes sociais, em que pese as suas peculiaridades, na verdade se interligam de forma dinâmica e por meio de um processo de retroalimentação causam impacto nas organizações. O uso do celular, o WhatsApp, o Facebook, o Twitter, os Blogs e as Lives, entre outros meios de comunicação, criaram uma “avalanche” de notícias jamais visto. Dentro desse contexto, o jornalismo participativo ganhou ênfase e se expandiu. A praticidade e a informação instantânea causaram impacto no jornalismo tradicional. O jornal impresso perdeu a primazia. Até mesmo o release considerado o “instrumento-rei” da assessoria de imprensa, hoje é publicado na web, alcançando de imediato o cliente final e o jornalista. Diante desse quadro, só resta ao jornalismo, se reinventar para manter sua função primordial de fazer a mediação.
Questão 3: No Brasil, quais as principais mudanças que as redes sociais provocaram na relação entre assessorias, clientes e os meios de comunicação?
Resposta: No Brasil, ocorreram também muitas mudanças, até mesmo similares às que aconteceram em Portugal. O fator determinante desse fenômeno é a extrema velocidade da informação divulgada através das redes sociais. Motivo pelo qual a relação entre assessorias, clientes e os meios de comunicação, sofreu grande impacto. Embora o contato com o assessor tenha deixado de ser sinônimo de fonte privilegiada, não significa que o mesmo passou a ser ignorado. Reitero o que afirmei ao responder à questão 2: “Não há que se falar em competição. Pelo contrário, as comunicações tradicionais e as redes sociais, em que pese as suas peculiaridades, na verdade se interligam de forma dinâmica e por meio de um processo de retroalimentação causam impacto nas organizações”. Talvez possa acrescentar que são complementares. Atualmente é muito comum o uso de várias ferramentas antes de partilhar a informação. Tal fato, contribui para um resultado mais produtivo e eficiente. O jornalismo de redação tornou-se mais dinâmico. O jornalista não se limita mais a receber a informação, selecionar e publicar. Após um trabalho apurado de pesquisa e “filtragem” nas redes sociais, muitas vezes consegue identificar a fonte direta, e com muita habilidade, até mesmo entrar em contato com ela. Com referência aos assessores, passaram a agir mais rápido, e com base no “manancial” de informações disponíveis nas redes, conseguem tomar conhecimento dos interesses dos jornalistas e identificar aqueles mais indicados para receber o “release”. Por falar nisso, a quantidade de releases destinados à imprensa online, aumenta cada vez mais. Apesar da internet ser o meio mais usado, o “pitching” por telefone persiste, principalmente, naqueles casos em que se deseja eliminar dúvidas do interlocutor, esclarecer com profundidade os detalhes da matéria e fazer negociação de natureza estratégica. Finalizo, destacando a velocidade da informação virtual que provoca a diminuição acentuada do contato físico. Acredito que surgirão outras quebras de paradigmas. O processo de mudanças não se esgotou. Como será o futuro desse vínculo? Não me arrisco a prever.
Comunicação e Relacionamento com a Imprensa e o Fenômeno das Redes Sociais
*Gladston Salles
(Curso Pós-Graduação de Jornalismo Digital – 2022 – Faculdade Unyleya)
*Observação: Esta obra literária está protegida por direitos autorais. Ao copiar algum trecho, cite sempre o nome do autor.
Considerações:
Com o avanço da tecnologia nos diversos setores das atividades humanas, o mundo sofreu profundas transformações. Ouso em afirmar que as mudanças que constatamos, a todo momento, são irreversíveis e generalizadas. Diante desse quadro, todo profissional deve buscar o aprimoramento contínuo para ser capaz de realizar um trabalho de “excelência”. Vivemos na chamada “era digital”, caracterizada pela “globalização”; e o fenômeno das “redes sociais digitais”, que exercem inegável domínio no campo da comunicação, provocam desafios de alta complexidade para as assessorias de imprensa.
Questão 1: Como usar esse recurso em benefício do cliente?
É fato notório que nunca estivemos tão conectados como na época atual. Aliado a isso, a “nova economia” apresenta um mercado hipercompetitivo. Hoje, uma empresa para ter visibilidade e maiores chances no mercado deve ingressar no meio digital. Não existe alternativa. A internet revolucionou o mundo dos negócios e potencializou de forma incomensurável os efeitos das boas ações de marketing, publicidade e propaganda. Serve como exemplo, a Magazine Luiza, que no espaço virtual conquistou mais de 55 milhões de seguidores. Especificamente, no que diz respeito às “redes sociais digitais”, vale destacar que deixaram de ser um espaço restrito das interações sociais, sendo também usadas como ferramenta de trabalho por inúmeras empresas que visam a seleção de pessoal qualificado, a realização da publicidade de produtos e serviços e o fortalecimento da relação marca/consumidores e empresa/colaboradores. Nesse contexto, a assessoria de imprensa assume um papel preponderante e de grande responsabilidade. Isto porque, as “redes sociais digitais” são capazes de “manchar” a boa imagem de uma empresa. Por essa razão, é fundamental que o cliente respeite o planejamento estratégico do assessor e não queira impor divulgação inapropriada. Cabe a este último trabalhar no sentido de tornar a organização confiável. Para tanto, deve irradiar credibilidade, competência e ética. As vantagens do uso das “redes sociais digitais” para as empresas são muito atraentes. As ferramentas digitais no mundo corporativo são de grande relevância e representam o dinamismo empresarial moderno, que não permanece estagnado, e está sempre atento às inovações capazes de gerar maiores lucros nos negócios. Uma corporação ativa na internet ganha maior visibilidade e se destaca das demais, além de contar com outras vantagens, tais como, a repercussão (efeito cascata) das ofertas e promoções que se propagam rapidamente por intermédio das pessoas que compartilham os conteúdos, incremento da interlocução e interação com clientes e fornecedores, observação diuturna das ações dos concorrentes, maior facilidade de receber “feedbacks”, maior probabilidade de constatar novas oportunidades de negócios, etc. Muita coisa ainda poderia ser dita, mas não vou me alongar, mesmo porque não é o objetivo da presente tarefa.
Questão 2: Como evitar que as redes sociais sejam um problema para o cliente?
Como já mencionado anteriormente, as “redes sociais digitais” apresentam riscos que devem ser considerados. Nesse ambiente virtual, o assessor de imprensa deve ter habilidade para gerar exibição estratégica compatível com os objetivos a serem alcançados pelo cliente. Convém salientar que não pode se descuidar, sob pena de prejudicar a boa reputação da empresa. Até mesmo uma palavra “mal colocada” pode ser distorcida e se replicar rapidamente, e causar danos, muitas vezes irreparáveis. O monitoramento do que se está falando a respeito da corporação nesse espaço virtual é de suma importância. Outro fator relevante é o domínio da linguagem própria dos principais canais, tais como o Facebook, Twitter, LinkedIn, Instagram e Youtube. Vale acrescentar que atualmente é muito comum consumidores apontarem que as marcas não sabem lidar com as reclamações. Daí, a necessidade de gestão das crises nesse ambiente. O famoso “feedback” não pode ser esquecido. A resposta sobre reclamações, esclarecimento de dúvidas e pedido de informações sobre produtos ou serviços deve ser imediata. A formação de uma equipe com capacidade para tratar das crises é aconselhável. Outra recomendação importante é que a resposta inicial deve ser postada na mídia social onde o problema ocorreu. Caso seja necessário pode agir também em outras mídias sociais. A seguir, outras dicas valiosas: reconheça o erro e informe que as providências estão sendo tomadas; não use linguagem corporativa, coloque o porta-voz em ação; na iminência de um descontrole, disponibilize um meio de contato privado para o reclamante; e, por fim, não deixe de informar aos colaboradores, o fato ocorrido, bem como as medidas tomadas, pois, eles agirão como mensageiros da empresa junto a família, amigos e diversos contatos.
Questão 3: Qual o melhor caminho para sensibilizar o jornalista a acolher uma pauta de interesse do seu cliente?
O trabalho do assessor de imprensa é interligado com o do jornalista. São interdependentes. O respeito e o bom convívio entre ambos são imprescindíveis. Embora possam ocorrer eventuais divergências, elas devem ser superadas. Caso contrário a produtividade oriunda dessa relação ficará prejudicada. Acredito que o assunto mais delicado é o que diz respeito a pauta exclusiva oferecida pelo assessor de imprensa. Muitas vezes, o jornalista é enganado e fica muito revoltado, com razão. O assessor de imprensa deve ser ético e agir com transparência. Caso contrário não terá credibilidade, fator essencial no trabalho que desempenha como elo de ligação entre o cliente e a mídia. Com relação ao envio de releases, o assessor precisa redobrar os cuidados para não o fazer para editorias erradas, assim como não deve ligar para o jornalista para saber se o mesmo gostou do que foi enviado por e-mail, quando o aconselhável é que aguarde entre 24 ou 48 horas. Por falar em e-mail, quando enviado a jornalista, não deve ter título espetaculoso, para não causar incômodo (muitas vezes o jornalista acha que o conteúdo não condiz com o título). Sabemos também que o assessor tem como meta principal a aceitação por parte do jornalista da pauta enviada. Nesse aspecto, a expectativa é enorme. Entretanto, precisa ter um autocontrole, e não insistir na venda da pauta, ainda mais quando já foi negada pela redação. O “follow up” tem sido o vilão nesse vínculo, e uma outra falha recorrente é fazer vários contatos em horários inapropriados. Para finalizar, cito o “deadline” que deve ser respeitado.
*Gladston Salles
Fontes:
Presença Digital: qual a real necessidade para o seu negócio? Leonardo Secundo (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) www.aberje.com.br
10 Vantagens do uso das redes sociais para as empresas www.pagepersonnel.com.br/advice/management/integracao-e-engajamento/10-vantagens-do-uso-das-redes-sociais-para-as-empresas
Como fazer assessoria de imprensa na era das redes sociais? Davi Guilherme www.blogrp.todomundorp.com.br/2017/10/voce-sabe-fazer-assessoria-de-imprensa-na-era-das-redes-sociais
Gestão de crises em redes sociais: aprenda a fazer de forma eficiente www.servircomrequinte.francobachot.com.br/gestao-de-crises-em-redes-sociais-aprenda-a-fazer-de-forma-eficiente/ Redação SCR
7 Coisas que um assessor de imprensa deve evitar no relacionamento com jornalistas de redação www.comunique-se.com.br/blog/assessor-de-imprensa-e-jornalistas
(Curso de Pós-Graduação de Jornalismo Digital – 2022 – Faculdade Unyleya)
*Observação: Esta obra literária está protegida por direitos autorais. Ao copiar algum trecho, cite sempre o nome do autor.
Entre tantos aspectos negativos, podemos destacar a falta de credibilidade, ausência de autenticidade e história desprovida de cientificidade. A história encarada como uma ciência, exige a realização de pesquisa historiográfica fundamentada na interdependência e interdisciplinaridade que oferece um “olhar” mais global. Não podemos aceitar a abordagem de fatos históricos de forma meramente objetiva. Por outro lado, a história como ciência linear deve ser repelida. O trabalho dos historiadores não se resume à uma simples narrativa dos fatos. Não se pode negar a importância das interações e da conjugação de saberes nos processos históricos. A tarefa do historiador é dinâmica, cujo processo de construção é passível de debate constante que se retroalimenta da relação de colaboração e diálogo com outras áreas do conhecimento. Assim sendo, até mesmo a multidisciplinaridade enriquece o aspecto metodológico dos trabalhos historiográficos. O vídeo da palestra da escritora nigeriana Chimamanda Nagozi Adichie é muito esclarecedor e apresenta um panorama que aborda com muita propriedade os perigos de uma história única. A palestrante através de sua própria experiência de vida como africana e escritora, ressalta a importância das referências culturais variadas na formação de sociedades. Ela cita o fato de ser uma escritora precoce, e desde cedo passou a ler livros britânicos e americanos, fato que teve grande influência nos contos que escrevia, cujos personagens eram brancos de olhos azuis. Como moradora na Nigéria, nunca havia saído de lá, e os livros que lia só tinha personagens estrangeiros. Havia apenas uma história única da África retratada na literatura ocidental. Somente quando descobriu os livros africanos é que a palestrante passou a ter uma melhor compreensão da cultura africana, até então desconhecida. A partir daí, passou a considerar também a possibilidade de personagens negros na literatura. Quando ingressou na universidade americana, pôde constatar que sua colega de quarto conhecia apenas uma história única da África: uma história única de catástrofe. Ante o exposto, concluímos que as referências culturais variadas são por demais importantes na formação de sociedades que devem ter como pressupostos básicos a pluralidade e diversidade. Uma história única apresenta apenas uma visão superficial e cria estigmas que prejudicam a imagem de países e pessoas. Basta dizer, que muitos brasileiros, cuja afrodescendência é inegável, ainda tem uma visão distorcida (catastrófica) sobre a África, desconhecendo, inclusive, que se trata de um continente. Com referência aos estereótipos, convém destacar que há uma estreita ligação entre a manutenção de certos estereótipos e a relação de poder mundiais. O poder dominante quer preservar o seu domínio e expandir sua hegemonia, e de acordo com seu projeto político, usa de diversos meios para alcançar seus objetivos, entre os quais, a manutenção de certos estereótipos, que esmagam o passado histórico e apagam as riquezas culturais genuínas de uma nação. Finalizo com um pensamento de Chimamanda: “Quando nós rejeitamos uma única história, quando percebemos que nunca há apenas uma história sobre nenhum lugar, nós reconquistamos um tipo de paraíso”.
Qual o perigo de uma história única?
*Gladston Salles
(Curso de Pós-Graduação de História e Cultura Afro-Brasileiras – 2021 – Faculdade Unyleya)
*Observação: Esta obra literária está protegida por direitos autorais. Ao copiar algum trecho, cite sempre o nome do autor.
O panorama do conteúdo noticioso foi totalmente reconfigurado com a democratização do acesso à internet e a multiplicação em larga escala das redes sociais. As novas tecnologias de informação e comunicação (computador, notebook, laptops, smartphone, etc.) propiciaram, através de um simples clique, o acesso a um fluxo infindável de notícias. São tantas as conectividades, as plataformas, os canais, as redes sociais, os links, as interligações, enfim, os desdobramentos, que um novo mundo se descortina a nossa frente: um mundo digital, com uma fonte de informações e comunicações sem limite, sem começo e nem fim. Diante desse quadro, o jornalista, cuja função primordial é informar as pessoas sobre os mais diversos fatos, não pode permanecer indiferente a esses recursos disponíveis 24 horas por dia. O jornalismo tradicional sofreu um impacto jamais visto. O panorama global dos meios de comunicação exige a atuação de um jornalismo moderno, vale dizer, digital, sob pena de perder a sua essência caracterizada pela função primordial da mediação.
Pergunta 1: Como o jornalista pode utilizar em sua rotina as técnicas estatísticas usando as redes sociais?
Resposta: Convém ressaltar a estrutura complexa resultante dos canais de comunicação criados pelos atores sociais online ao desenvolverem relações entre si. Diante dessa situação, o jornalista em sua rotina de trabalho deve estar munido de ferramentas adequadas para usar as redes sociais para fins de apurar, produzir e distribuir conteúdo jornalístico de qualidade e digno de credibilidade. Daí a importância das técnicas estatísticas, visto que as redes sociais não têm uma estrutura clara. Existem parâmetros que podem ser muito bem aproveitados pelo jornalista dentro desse contexto, como por exemplo, redes sociais delimitadas por áreas geográficas, grupos etários, interesses comerciais, necessidades informacionais, etc. Outro ponto preponderante, diz respeito ao Rich media, formato de publicidade com anúncio que contém recursos avançados como vídeo, áudio e outros elementos que atraem os espectadores que acabam se envolvendo com o conteúdo e interagindo, podendo inclusive ser transferido para inúmeros usuários. É oportuno salientar que muitas empresas estão investindo em redes sociais privadas, evidentemente com cunho comercial. Dentre as ferramentas de redes sociais com maior popularidade, destaca-se o Facebook, considerado a principal fonte de notícias pelos indivíduos, segundo os dados de pesquisa. Outra rede social popular é o Twitter, com compartilhamento de conteúdo e criação de comunidades, sendo mais focado em materiais escritos. Embora o Instagram seja mais focado em fotos, também não pode ser esquecido, pois em termos de preferência é muito usado pelos usuários de redes sociais. O fato é que o Feed de notícias é um “prato cheio” para quem tem como meta informar as pessoas. Mas, aqui faço uma ressalva: o jornalista deve realizar um apurado trabalho de pesquisa e filtragem nas redes sociais, onde muitas vezes consegue identificar a fonte direta, e com muita habilidade, até mesmo entrar em contato com ela. Não resta dúvida de que os serviços de “web em tempo real” e “baseado em localização” revolucionaram o campo da informação, contribuindo para o reconhecimento da importância do jornalismo digital. Assim sendo, os dados estatísticos referentes as redes sociais são de grande relevância para o profissional que tem como missão informar as pessoas sobre os fatos que acontecem no dia a dia. Isso porque serve como uma valiosa ferramenta, uma espécie de bússola que guia e orienta o jornalista no mar revolto de “fake news”. Para entendermos melhor a questão, basta levarmos em conta o fato de que existem mais de 3 bilhões de usuários ativos de mídia social, sendo que o Facebook e o WhatsApp lidam com mais de 60 bilhões de mensagens por dia. A quantidade de visualizações diárias de vídeo também é algo inimaginável. O tema é amplo e complexo. Portanto, não vou me alongar. Creio que o jornalista na sua rotina de trabalho, também deve acessar as redes sociais para ter uma visão abrangente dos conteúdos noticiosos, e utilizar os recursos das técnicas estatísticas como instrumento facilitador no processo de prestar informações atualizadas, relevantes e fidedignas. A pesquisa e a filtragem, como já dito anteriormente, são imprescindíveis. Considerando o fato de que qualquer pessoa, a qualquer tempo, pode produzir notícias na internet, a mediação deverá ser o principal papel do jornalista.
Introdução às Redes Sociais
*Gladston Salles
Fontes:
O mundo digital – blog de marketing digital da MB8 – 20/04/2021 www.mb8.com.br
A generosidade em ser jornalista e o papel de mediador de notícias – July Albuquerque – 19/06/2017 www.medium.com
(Curso de Pós-Graduação de Jornalismo Digital – 2022 – Faculdade Unyleya)
*Observação: Esta obra literária está protegida por direitos autorais. Ao copiar algum trecho, cite sempre o nome do autor.
Não resta dúvida de que a classificação do gênero humano fundamentada em raças, a partir do meado do século XVIII e XIX, apregoada pelos meios científicos da época, implicava na hierarquização dos grupos humanos. A referida assertiva considerava os europeus superiores às demais raças, pelo fato de serem mais inteligentes e moralmente superiores, exatamente devido a cor da pele branca. A medida que os europeus promoviam a industrialização e expansionismo, os filósofos e cientistas criavam tipologias raciais que colocavam os europeus no topo da pirâmide da classificação do gênero humano em raças. Assim sendo, os indígenas, os amarelos(asiáticos) e negros(africanos) eram considerados inferiores. Especificamente, com relação a escravização negro-africana, promovida pelos colonizadores europeus, uma marca ficou sedimentada nos sequestrados: o aspecto negativo conferido á pessoa negra. Vale ressaltar, que esse aspecto negativo, lamentavelmente, ainda perdura no imaginário social da população brasileira. A questão da desidentificação étnica foi um processo levado a cabo pelos europeus que sequestraram os escravizados e os mantiveram separados daqueles que que tinham línguas e valores semelhantes aos seus. Implementaram, ainda a conversão dos negros-africanos ao catolicismo e impuseram a adoção de nomes católicos. Fora do continente africano, as pessoas começaram a ser chamada de negros e crioulos. É fato notório que os negros originários da África, eram considerados os mais atrasados dentre os outros bárbaros, daí as justificativas para escravizá-los e subjugá-los ao cristianismo. Convém destacar que os portugueses que aqui chegaram viam sozinhos, não tinham mulheres nem filhos, o que provocou inúmeros casos de estupro contra mulheres negras e indígenas, que inclusive era aceito e legitimado pela Igreja Católica e pelos seus representantes. O estupro acabou sendo o causador do início das misturas entre raças, por força da violência colonial, dando origem ao chamado fenômeno da miscigenação. Vale mencionar, que a tese do cientista João Batista Lacerda, com brancos ao miscigenar com os nacionais negros e mestiços, faria com que em 100 anos o Brasil seria um país completamente branco, até hoje não se concretizou. A partir de 1930, a teoria de Gilberto Freyre ganhou adeptos, através da obra Casa Grande e Senzala, que fez surgir a figura do mulato (síntese do que é brasileiro) que deu origem ao povo formado de três raças. O mito das três raças não prosperou. No ano 1930, a Frente Negra Brasileira, atuou em jornais e eventos, problematizando o que era sofrido pela população que não era branca. EM 1940, o Teatro Experimental, denunciava práticas racistas no dia a dia da população negra, através de peças teatrais. Os movimentos sociais negros no ano de 1990 com a redemocratização do país encontrou um ambiente mais propício. Ainda em 1990, a suposta redemocratização racial deixou de ser oficial. O Presidente Fernando Henrique Cardoso deslegitimou esse discurso, e reconheceu o racismo e a discriminação racial com algo estrutural no Estado. A presença dos negros e negras nos ambientes universitários, a partir do ano 1990, impulsionou os debates. Foram formados vínculos com movimentos negros de outros países da América Latina. Já a Lei 10639/2003 provocou um grande impacto na nação brasileira ao tornar obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas públicas e privadas do ensino fundamental e médio. Houve a afirmação da diversidade cultural e a concretização de uma educação das relações etino-raciais nas escolas a partir de 2000. A educação passou a ensejar o direito social no qual deve estar presente o direito a diferença. A importância da referida lei é inegável, ao possibilitar às crianças e adolescentes, conhecer não somente a história, mas também a rica cultura afro-brasileira e africana e sua participação no desenvolvimento do país. Os afrodescendentes fincaram raízes no território nacional, e com suor, sangue e muito trabalho deram sua parcela de contribuição para que o Brasil, país das misturas e dos contrastes, viesse ocupar posição de destaque no cenário mundial. Creio ser oportuno salientar, que as relações étnico-raciais preconizam hierarquias estabelecidas racialmente no Brasil. Já a noção de raça, está intimamente vinculada às características biológicas. Por outro lado, etnia ganhou força entre os teóricos que analisavam as diferenças entre grupos como judeus, índios e negros, levando em conta os processos históricos e culturais. Com o passar do tempo, o termo étnico-racial foi aceito como o mais apropriado (pertencimento simbólico, cultural e territorial ao falarmos da população negra). Ainda refletindo sobre a Lei 10639/2003, não pode ser encarada apenas como um instrumento que incentiva nas escolas a tolerância com as diferenças. Pelo contrário, vai muito além, pois a sua finalidade junto à multiplicidade de pessoas que convivem no espaço da escola, é fazer com que haja preservação e valorização da diversidade cultural, redução das desigualdades sociais e respeito aos direitos humanos. Nesse contexto, o processo educativo, respaldado pela mencionada legislação, assume um papel de grande relevância social.
Educação e Políticas das Diferenças
*Gladston Salles
Consulta:
“Diálogos sobre as relações étnico-raciais com as juventudes: (Re) pensando estratégias para a promoção da igualdade racial nos contextos escolares”. Carolina F. Santos da Silva e Thabat Jeandra da Silva Ferreira
www.seer.ufrgs.br/iluminuras/article/view/89034
(Curso de Pós-Graduação de História e Cultura Afro-Brasileiras – 2021 – Faculdade Unyleya)
*Observação: Esta obra literária está protegida por direitos autorais. Ao copiar algum trecho, cite sempre o nome do autor.
Por que utilizar a ideia de que a escravidão existia na África antes da presença europeia não minimiza os impactos gerados pelo tráfico atlântico?
Segundo pesquisas historiográficas consistentes, a escravidão Atlântica foi muito diferente da existente na África antes dos europeus. Segundo Paul Lovejoy (A escravidão em África): “A escravidão era uma forma de exploração. Suas características específicas incluíam a ideia de que os escravos eram uma propriedade; que eles eram estrangeiros...” Ora, se o escravo era o estrangeiro, fica claro que não possuía vínculo com a sociedade na qual era escravo, não sendo portanto um irmão. A escravidão que existia na África antes da presença europeia não minimiza os impactos gerados pelo tráfico atlântico. Não se pode justificar uma prática degradante, cruel, desumana e criminosa, com base numa alegação sem cabimento. Como minimizar os impactos gerados pelo tráfico atlântico, quando este em nada era parecido com a escravidão que existia na África antes da presença dos europeus? Vários fatores comprovam que são situações antagônicas. Convém ressaltar, que o Continente Africano, contrário ao que muita gente pensa, sempre foi dinâmico, aberto e ativo nas construções de sociedades e relações comerciais com outros povos, principalmente muçulmanos (caravanas atravessavam o deserto e cruzavam o Saara) cujas interações resultavam numa troca intensa de hábitos, costumes, enfim valores culturais. É preciso acabar com aquela visão catastrófica da África (aquela das savanas, da fome e das doenças). Bem como, desmistificar a questão da inabilidade africana em superar o subdesenvolvimento. É preciso reconhecer o passado do Continente Africano, em cujo solo prosperou a civilização egípcia (suas descobertas, grandeza das pirâmides e cultura). Cabe aqui, enfatizar o trabalho do historiador senegalês Cheik Anta Diop que demonstrou cientificamente que a sociedade do Egito Antigo e pessoas que nela viveram eram negras. Por outro lado, não resta dúvida de que muitos escravos que haviam nos reinos africanos eram provenientes de guerras com outras sociedades. Não há que se falar que a categoria generalizante de africanos escravizava a si própria.
OBS.: Breve texto, conforme solicitado.
História da África
*Gladston Salles
(Curso de Pós-Graduação de História e Cultura Afro-Brasileiras – 2021 – Faculdade Unyleya)
*Observação: Esta obra literária está protegida por direitos autorais. Ao copiar algum trecho, cite sempre o nome do autor.
O papel das religiões entre os povos africanos (dentro e fora da África) como elemento de resistência e seu impacto em outras questões econômicas e sociais?
O islamismo teve grande predominância na África devido a presença de comerciantes religiosos muçulmanos nos diferentes reinos africanos. Muitos africanos se converteram ao islamismo para não serem escravizados (ocorria muitas guerras com outras sociedades e de acordo com os preceitos do islã não se escravizava outro muçulmano). Diversos interesses econômicos, políticos e sociais também facilitaram a dita conversão no decorrer do tempo. Mas, as religiões nativas africanas coexistiam, não eram apagadas. Serve como exemplo a prática religiosa vinculada à árvore Baobá, resultante da cosmovisão africana. Já o catolicismo na África, trazido pelos missionários europeus que exigiam o rompimento das crenças/práticas pagãs, teve atuação expressiva apenas no reinado do Congo. Fora da África, a presença de congadas (reinados negros) em quase todas as regiões do Brasil que receberam escravos africanos foi realmente marcante. A pesquisadora Julita Scarano, autora da obra Escravidão e Devoção, foi pioneira nos estudos dessas manifestações, denominadas “irmandades de homens pretos”. A festa de coroação de rei do Congo no Brasil escravista é um fato histórico surpreendente, pois os participantes eram negros e escravos. Creio, que o fato da dita coroação ser realizada na igreja através de sacerdote católico, também conferia um aspecto solene de grande relevância para os escravizados, que ao festejar faziam uma “viagem no tempo” e relembravam os festejos semelhantes em terras africanas, e se sentiam “espiritualmente” confortados e entrelaçados pelo viés da ancestralidade. Estou de acordo com a pesquisadora Marina de Mello e Souza, quando diz: “A rememoração simbólica do reino africano católico afirmava uma “africanidade...” Não resta dúvida de que se percebe um sentimento de resistência no campo das religiões entre os povos africanos (dentro e fora da África), bem como o caráter impactante no ambiente familiar, comportamental, indumentário, atividades comerciais e sociais, etc. Fico imaginando o rei do Congo no Brasil escravista, após ser coroado, desfilando em cortejo, seguido de sua corte, de seus músicos, de seus dançadores, num momento raro de felicidade...
Fonte: Reis do Congo no Brasil, Séculos XVIII e XIX – Marina de Mello e Souza.
(Curso de Pós-Graduação de História e Cultura Afro-Brasileiras – 2021 – Faculdade Unyleya)
*Observação: Esta obra literária está protegida por direitos autorais. Ao copiar algum trecho, cite sempre o nome do autor.
*Gladston Salles
Humildemente, venho ocupar esse espaço, com a intenção de colaborar para uma maior reflexão sobre os estudos clássicos sobre negritude. Ao fazer a leitura do capítulo 1 da unidade 3, achei intrigante o conteúdo que apresenta as teorias raciais, o racismo científico, as discussões sobre a questão da miscigenação, e os sentimentos de inferioridade racial resultante do racismo científico e determinismo geográfico no século XIX. Por outro lado, as afirmações de que “não há associação possível entre civilização e negritude”; “o negro sempre foi subordinado aos povos de raça branca com os quais entraram em contato; e “haveria um tipo antropológico provável para um coeficiente alto de predisposições patológicas” (Vianna,1934), foi como uma espécie de “porrada”, da qual ainda não consegui me recuperar. Confesso que tenho parcos conhecimentos a respeito dos processos étnicos-raciais no Brasil e no mundo. Razão porque busquei alguns subsídios em algumas fontes na esperança de que pudesse escrever algo proveitoso para os colegas. A xenofobia tem sido algo marcante na Europa. Mas, segundo vários pesquisadores, o continente europeu não era um reduto exclusivo de caucasianos. Diz o historiador português Francisco Bethencourt, Professor do King’s College de Londres, e autor de Racismos: das Cruzadas ao século 20: “A variedade de etnias existia na Europa desde a pré-história, com intensas migrações da Ásia, mas também do Oriente Médio no período clássico, grego e romano. O tráfico de escravos da África era dirigido ao Oriente Médio, mas também para a Europa”, e acrescenta ainda, que havia preconceito étnico difundido, mas a ação discriminatória era esporádica. Segundo a historiadora Pamela Patton, da Universidade Princeton, é preciso considerar a maneira como os europeus medievais definiam a raça. “Exceto quando se deparou com pessoas com aparências muito diversas das deles, como os africanos subsaarianos, os europeus tendiam a olhar mais para as práticas culturais, como religião e linguagem, do que para características biológicas ou físicas.” No império romano, o preconceito estava ligado à linhagem e descendência. Porém não existem provas de uma discriminação sistemática contra etnias específicas. Pelo contrário, os romanos eram relativamente generosos na atribuição da cidadania” (Bethencourt). Muitos pesquisadores fazem referência ao fato de que, no século 16, um décimo da população em Lisboa era negro. Estudos indicam que o racismo surgiu de fato no século 17. A forma primitiva do colonialismo no ocidente, caracterizada pela escravidão, está sempre vinculada à história do racismo. Dentro desse contexto, acredito que não se pode descartar a tese de que a ideia de raça tenha sido criada para designar os povos não europeus que foram dominados e governados pelos europeus. Convém destacar ainda, que o sistema escravocrata tinha como fundamento a economia. Quanto à afirmação de que “não há associação possível entre civilização e negritude” (Vianna), acho muito infeliz e descabida. Isso porque, entendo que o processo de civilização não depende da cor da pele dos seres humanos nela envolvidos. A cor da pele não pode ser sinônimo de superioridade. Os seres humanos que fazem parte da grande família universal são irmãos, e devem viver sob o manto da liberdade, igualdade e fraternidade. Repudio também com veemência, a afirmação de que “haveria um tipo antropológico provável para um coeficiente alto de predisposições patológicas” (Vianna). Afinal, basta ter a pele negra para representar potencial perigo para a sociedade?
Os estudos clássicos sobre Negritude
*Gladston Salles
Fontes consultadas:
Europa sempre foi povoada por diversas etnias, ao contrário do que pensam supremacistas brancos – www.bbc.com/portuguese/geral-46097350
NEABI - Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas – A história do racismo – documentário www.unisinos.br/blogs/neabi/2013/02/04/a-historia-do-racismo-documentario
(Curso de Pós-Graduação de História e Cultura Afro-Brasileiras – 2021 – Faculdade Unyleya)
*Observação: Esta obra literária está protegida por direitos autorais. Ao copiar algum trecho, cite sempre o nome do autor.
DISSERTAÇÃO 1:
HISTÓRIA E CULTURA NO BRASIL
*Gladston Salles
(Curso de Pós-Graduação de História e Cultura no Brasil - 2020 - Universidade Estácio – RJ)
*Observação: Esta obra literária está protegida por direitos autorais. Ao copiar algum trecho, cite sempre o nome do autor.
A história cultural, enquanto corrente historiográfica, amplia de maneira significativa as possibilidades de investigação de novos temas, além de propiciar uma nova metodologia de trabalho ao historiador. No entanto, não são poucos os críticos dessa abordagem historiográfica. Analise fazendo uso de no mínimo 15 linhas os argumentos favoráveis e contrários à história cultural, apresentando suas próprias conclusões sobre esse debate.
Resposta Dissertativa:
As correntes historiográficas com suas metodologias distintas, devem ser encaradas como "mola propulsora" que impulsiona o aprimoramento do trabalho investigativo do historiador. Ao explorar, e interpretar o passado, o historiador deve fazê-lo consciente de que a escrita da história está vinculada à um constante processo de mudança. A "Escola dos Annales" no início do século XX provocou uma importante inovação na historiografia da cultura ao privilegiar o universo mental dos personagens, e grupos sociais, dando vida aos atores desconhecidos. Já o modelo positivista, restrito ao documento escrito, não permitia que o historiador ampliasse o seu campo de exploração, e visão interpretativa. Convém ressaltar, as várias fases que surgem provocadas pela chamada "História das Mentalidades":
Fase 1 - mentalidades propriamente ditas.
Fase 2 - centrada no aspecto econômico
Fase 3 - ano de 1960. "Nova História", caracterizada pela fragmentação dos objetos de análise.
Fase 4 - parceria com outras revistas; reformulação, e interação com novas abordagens.
Fase 5 - micro-história, caracterizada pela especificidade, e dando ênfase a objetos comumente ignorados.
Com relação aos desdobramentos da historiografia da cultura brasileira, ganha destaque a obra "Casa Grande e Senzala" de Gilberto Freire, marco revolucionário na escrita, marcado por forte influência da antropologia (mestiçagem). Em seguida, Sérgio Buarque de Holanda, cria a figura do "Homem Cordial" , fruto da análise do comportamento do brasileiro perante o poder público. O emocional é supervalorizado, e a intimidade é tida como algo natural que se estabelece entre os atores (particular x servidor público). Em 1980, a historiografia da cultura ganha novos horizontes devido a redemocratização do país. As críticas tão comuns no ambiente literário perdem o vigor. E, no ano de 1985, com o término da ditadura, a ampla liberdade na escrita promove novas abordagens significativas. Dentro desse contexto, creio que, os princípios da "História das Mentalidades" deve ser o farol mais indicado a guiar o historiador da cultura brasileira. Mas, que fique bem claro, sem as amarras na sua liberdade de ação. Com o olhar voltado para novos saberes, o historiador da cultura brasileira não pode ignorar a importância da interdisciplinaridade. A utilização dos instrumentos oferecidos pela antropologia, como complemento, será de grande valia. No mundo atual, marcado pela globalização, e o acesso imediato de uma gama de informações que se sobrepõem umas às outras, diuturnamente; o historiador da cultura brasileira precisa estar atento, e aberto ao diálogo com outras "disciplinas". O homem moderno enfrenta um ciclo de transformações na sociedade onde vive, jamais visto; e cabe ao historiador ser o vanguardeiro.
DISSERTAÇÃO 2:
Ao longo da aula foram apresentados diversos documentos ou fontes historiográficas que apresentavam elementos da vida cotidiana e seu impacto na sociedade observada. Analise brevemente fazendo uso de no mínimo 15 linhas, dentro dos parâmetros da história cultural e do cotidiano, a letra da canção Tevê de Kleber Albuquerque e Zeca Baleiro (disponibilizada no material de estudo).
Resposta Dissertativa:
TÍTULO: O COTIDIANO, A CULTURA E OS NOVOS OLHARES SOBRE A SOCIEDADE E A HISTÓRIA
O HOMEM COMO SER SOCIAL EXERCE A EXPERIÊNCIA DO VIVER ATRAVÉS DE UM PROCESSO DINÂMICO E TRANSFORMADOR. DENTRO DESSE CONTEXTO, ELE DEIXA DE SER UM MERO ESPECTADOR E INTERAGE COM SEUS SEMELHANTES E COM TUDO AO SEU REDOR PROVOCANDO MUDANÇAS, INCLUSIVE EM SI MESMO. NESSE CICLO DE TRANSFORMAÇÕES, O HOMEM DEIXA DE SER PASSIVO E SE APRESENTA COMO AGENTE ATIVO, UM ATOR INSERIDO NA SOCIEDADE. COM BASE NESSA PERCEPÇÃO, CREIO QUE PODEMOS AFIRMAR QUE O HOMEM QUE VIVE EM SOCIEDADE É INDISSOCIÁVEL DA VIDA COTIDIANA.
DIZ A FILOSOFA HÚNGARA AGNES HELLER COM MUITA PROPRIEDADE:
"A VIDA COTIDIANA É A VIDA DO HOMEM"
CONVÉM RESSALTAR QUE É NO COTIDIANO QUE O SER HUMANO MESMO DIANTE DE CONDIÇÕES ADVERSAS, OU MESMO ALIENANTES, ENCONTRA MEIOS PARA DEMONSTRAR A SUA CRIATIVIDADE E INCONFORMISMO. E MUITAS VEZES NA SOCIEDADE É CAPAZ DE "MARCAR PRESENÇA" COMO UMA ESPÉCIE DE "HERÓI ANÔNIMO," QUE NO COTIDIANO, ATRAVÉS DE ATOS E PALAVRAS DEIXA FLUIR SUA REPULSA AO "STATUS QUO" QUE TENTA SUFOCAR A SUA AUTONOMIA E INDIVIDUALIDADE. A CANÇÃO TEVÊ DE ZECA BALEIRO E KLEBER ALBUQUERQUE RETRATA MUITO BEM ESSA SITUAÇÃO. O SER HUMANO, MAIS DO QUE NUNCA, NA SOCIEDADE MODERNA SE DEPARA COM UM COTIDIANO MARCADO POR UMA "ENXURRADA" DE APELOS COMERCIAIS, CARTAZES, OUTDOOR, ENFIM, PROPAGANDAS DE DIVERSAS NATUREZAS. LOGO AO ACORDAR, PELA MANHÃ, O HOMEM ASSISTE A UMA VERDADEIRA "GUERRA" DE COMERCIAIS NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO. FATO QUE PERSISTE NA VIA PÚBLICA COM DIVERSOS TIPOS DE PUBLICIDADE. É O RÁDIO, CINEMA E TV , QUERENDO "MODELAR" O CIDADÃO E DITAR REGRAS PADRONIZADAS. COM O AVANÇO TECNOLÓGICO, AS CHAMADAS MÍDIAS PASSARAM A OCUPAR LUGAR DE DESTAQUE NA SOCIEDADE VIGENTE. A INTERNET DISPONIBILIZA UMA INFINDÁVEL QUANTIDADE DE INFORMAÇÕES INSTANTÂNEAS E PROVOCA UMA SÉRIE DE IMPLICAÇÕES NO COTIDIANO. O HOMEM MODERNO QUE NÃO SE "DESGRUDA" DO CELULAR (COMO SE FOSSE UMA EXTENSÃO DO PRÓPRIO CORPO) MANTÉM UMA LUTA INGLÓRIA PARA PRESERVAR SUA LIBERDADE DE AÇÃO E (OU) ESCOLHA ISENTA DE INFLUÊNCIA EXTERNA. PENSAR POR SI MESMO PASSOU A SER UM GRANDE DESAFIO. PORTANTO, QUE FIQUEM ATENTOS OS HISTORIADORES E OS ESTUDIOSOS DO COTIDIANO; POIS A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR É: COMO SERÁ O AMANHÃ?
BREVES COMENTÁRIOS:
REPUDIO A ABORDAGEM DOS FATOS HISTÓRICOS DE FORMA MERAMENTE OBJETIVA (FILOSOFIA POSITIVISTA). A ANÁLISE SEM RELAÇÃO DE INTERDEPENDÊNCIA, A HISTÓRIA COMO CIÊNCIA LINEAR, A CHAMADA NEUTRALIDADE CIENTÍFICA. O TRABALHO DOS HISTORIADORES NÃO SE RESUME À UMA SIMPLES NARRATIVA DOS FATOS. A INTERDEPENDÊNCIA E A INTERDISCIPLINARIDADE CONSTITUEM FATORES IMPRESCINDÍVEIS PARA UMA BOA PESQUISA HISTORIOGRÁFICA. JÁ A HISTORIOGRAFIA PRECONIZADA POR KARL MARX, NA QUAL AS CONDIÇÕES MATERIAIS NORTEIAM E ORIENTAM A VIDA HUMANA; BEM COMO A CONCEPÇÃO DE QUE A HISTÓRIA É FRUTO DA LUTA DE CLASSES NÃO PODE PROSPERAR. TAL PERCEPÇÃO CENTRADA NO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO DA CLASSE TRABALHADORA DIANTE DA IDEOLOGIA DA CLASSE DOMINANTE CONTRARIA FRONTALMENTE A VISÃO MODERNA DA HISTORIOGRAFIA FUNDAMENTADA NA INTERDEPENDÊNCIA E INTERDISCIPLINARIDADE QUE OFERECE UM "OLHAR" MAIS GLOBAL. MERECE DESTAQUE NO UNIVERSO HISTORIOGRÁFICO A CONTRIBUIÇÃO DOS PESQUISADORES GINZBURG (CULTURA DAS CLASSES SUBALTERNAS) E ROBERT DARNTON (UNIVERSO MENTAL DOS HOMENS COMUNS). NO ESTUDO DO COTIDIANO A MICRO HISTÓRIA POSSIBILITA UMA ANÁLISE MAIS ABRANGENTE, LEVANDO EM CONTA A HISTÓRIA DOS SEM HISTÓRIA, VALE DIZER, DOS HOMENS COMUNS. E COMO SEMPRE DIGNO DE REGISTRO A CORRENTE HISTORIOGRÁFICA DENOMINADA ESCOLA DE ANNALES QUE OFERECE VALIOSA FERRAMENTA AOS ESTUDIOSOS TAMBÉM NO CAMPO DO COTIDIANO.
ESCOLA DE ANNALES - SUJEITO E OBJETO - FORMA INTRÍNSECA - RECIPROCIDADE - DIÁLOGO - INTERAÇÃO - INTERLOCUÇÃO DA HISTÓRIA COM A ANTROPOLOGIA
PARA FINALIZAR FAÇO REFERÊNCIA A TRÊS GRANDES ESTUDIOSOS DO COTIDIANO: MICHEL DE CERTEAU, HENRI LEFBVRE E AGNES HELLER.
CERTEAU - PRÁTICAS SUBVERSIVAS SILENCIOSAS NA VIDA COTIDIANA - MICRO RESISTÊNCIA - TÁTICAS E ESTRATÉGIAS - LIBERDADE GAZETEIRA
LIVRO: INVENÇÃO DO COTIDIANO
LEFBVRE - COTIDIANO COMO LUGAR EFETIVO DOS AGENTES DE MUDANÇA HISTÓRICA - COTIDIANO ABARCA PROBLEMÁTICAS CENTRAIS DE CONTEMPORANEIDADE
ARTIGO: SENSO COMUM E A VIDA COTIDIANA
AGNES - COTIDIANO COMO EPICENTRO DA VERDADEIRA HISTÓRIA. AÇÕES QUE NÃO SÃO DA ESFERA COTIDIANA PARTEM E RETORNAM À ESFERA COTIDIANA. ATIVIDADES PARA GARANTIR A REPRODUÇÃO E SOBREVIVÊNCIA.
LIVRO: O COTIDIANO E A HISTÓRIA
CONCLUSÃO:
CONSIDERO INAPROPRIADA PARA O ESTUDO DO COTIDIANO, SEGUNDO A VISÃO MODERNA DA HISTORIOGRAFIA, A TEORIA POSITIVISTA, BEM COMO A DE KARL MARX.
CONSIDERO INTERESSANTE E ÚTEIS OS ESTUDOS DE GINZBURG E ROBERT DARNTON.
CONSIDERO DE SUMA IMPORTÂNCIA PARA A PESQUISA DO COTIDIANO, POR ORDEM DE DESTAQUE:
1 - ESCOLA DE ANNALES
2 - MICHEL DE CERTEAU
3 - AGNES HELLER
4 - HENRI LEFBVRE
*Gladston Salles
A historiografia contemporânea tem se debatido muito em torno da questão da cientificidade da História. Cite alguns argumentos encontrados nos textos e documentos historiográficos expostos na aula, que justifiquem esse debate. A História Cultural favorece ou coloca em dúvida essa "cientificidade"?
Disserte fazendo uso de no mínimo 15 linhas.
Resposta Dissertativa:
1 - A questão da cientificidade da História
História - "Rainha das Ciências"?
Qualquer insinuação de conceituar a História apenas como disciplina deve ser repelida com veemência. O historiador ao escrever e reescrever o passado não se apresenta como mero "contador de história". Desde longa data a historiografia vem sendo revitalizada e alicerçada em bases científicas. O historiador ganhou destaque no cenário cultural e passou a ter o seu trabalho reconhecido como de grande importância no mundo científico. Alguém já afirmou com muita propriedade que não existe cultura sem passado. Por outro lado, a História ao analisar e investigar o passado utiliza técnicas e metodologias apropriadas. Acrescenta-se ainda o fato de ser ensinada. Fatores esses, que qualifica a História como ciência. O "fazer história" não se limita a simples utilização de meios estáticos e enfadonhos. Pelo contrário, a tarefa do historiador é dinâmica e caracterizada por um processo de construção passível de debate constante que se retroalimenta da relação de colaboração e diálogo com outras áreas do conhecimento. Daí que a interdisciplinaridade e até mesmo a multidisciplinaridade enriquecem o aspecto metodológico dos trabalhos historiográficos, não configurando caráter de sobreposição ou dependência de um saber sobre outro. Os saberes nesse caso, apenas se completam. Creio que a própria natureza do trabalho investigativo do historiador o leva de modo natural a buscar o diálogo com outros profissionais acadêmicos visando uma análise mais exaustiva e eficaz. E, muito embora áreas de conhecimento como ciências sociais, filosofia, psicologia, linguística, e tantas outras têm valor significativo; o diálogo com a antropologia me parece indispensável. Finalizo esse tópico com a seguinte pergunta para reflexão: O fato de o historiador utilizar como fontes de pesquisa trabalhos de profissionais acadêmicos de formação distinta pode ser fundamento para alguém alegar que a História não é uma ciência, mas sim apenas uma disciplina? Particularmente, acho que não. E você?
2 - A História Cultural e a cientificidade da História
Não resta dúvida de que a História Cultural não coloca em dúvida a cientificidade da História. Senão, vejamos:
Considerando a definição de cultura como sendo tudo aquilo produzido pela humanidade no plano concreto ou imaterial; podemos afirmar que o trabalho de análise e investigação do passado não pode prescindir da chamada História Cultural. Se não existe passado sem cultura a interlocução com diversas áreas do conhecimento é necessária para entender o que o homem criou. Cultura é conhecimento. E conhecimento é marcado por um conjunto de complexidades histórico-culturais. Daí a importância da interdisciplinaridade muito útil para uma boa pesquisa e reflexão histórica. Creio que o fato da História Cultural fazer parte de 80 % da produção acadêmica nos últimos anos, bem demonstra a importância dessa corrente historiográfica. Convém ressaltar que a Escola dos Annales fundada por Lucien Febvre e March Bloch em 1929 ( Revista Annales d' Histoire Économique et Sociale ) muito contribuiu para a relevância do "modus operandi" dos historiadores, cuja metodologia inovadora passou a deixar de lado os paradigmas tradicionais e dedicar especial atenção aos planos mentais de longa duração. No mundo contemporâneo marcado pelo avanço tecnológico onde as informações se multiplicam de modo instantâneo, a multidisciplinaridade também contribui para a excelência nas pesquisas historiográficas, e não implica na perda da identidade do historiador. O famoso historiador Jacques Le Golf (terceira geração dos Annales) ao abordar o tema cientificidade salienta que a narração na historiografia não implica na descaracterização científica da História. A retórica nesse caso, apenas facilita o entendimento analítico. Le Golf considera a História como ciência do tempo e enfatiza que a imprevisibilidade no saber histórico o torna mais real e autêntico. Através de sua obra (ensaio) "A bolsa e a vida" sobre a figura do usurário na Idade Média, Le Golf traz à tona com muita sutileza novos aspectos da História até então desconhecidos. No referido ensaio, a metodologia de longa duração na História fica evidente, fato que possibilita ao historiador alcançar a percepção do usurário medieval como precursor do capitalismo ( invenção do Purgatório no sec. XIII abrandou o sentimento pecaminoso e desprezível das práticas do usurário, tendo em vista que a alma do mesmo poderia ser salva na eternidade ). É oportuno destacar que a criação da Escola Prática de Altos Estudos promovida pela Escola dos Annales no ano de 1947 colocou a História no patamar acima das Ciências Sociais, e atingiu elevado prestígio com a fundação do laboratório de pesquisas históricas e centros pluridisciplinares. Para finalizar essa modesta dissertação, creio ser de grande valia mencionar que a denominada Nova História Cultural caracterizada pelas "representações e práticas" é predominante hoje.
(Curso de Pós-Graduação de História e Cultura no Brasil - 2020 - Universidade Estácio – RJ)
*Observação: Esta obra literária está protegida por direitos autorais. Ao copiar algum trecho, cite sempre o nome do autor.
DISSERTAÇÃO 3:
*Gladston Salles
(Curso de Pós-Graduação de História e Cultura no Brasil - 2020 - Universidade Estácio – RJ)
*Observação: Esta obra literária está protegida por direitos autorais. Ao copiar algum trecho, cite sempre o nome do autor.
DISSERTAÇÃO 4:
*Gladston Salles
Discuta fazendo uso de no mínimo 15 linhas a questão das linguagens artísticas como fonte de pesquisa para o historiador.
Resposta Dissertativa:
O historiador / pesquisador no mundo moderno encontra um manancial de informações de várias áreas do conhecimento imprescindíveis para uma boa historiografia. Hoje, não se pode falar em falta de subsídios para a realização do trabalho histórico / investigativo mais aprimorado. O que se exige do historiador é que ele esteja aberto ao diálogo com outros profissionais de formação distinta, e que tenha no mínimo noções básicas dos fundamentos científicos que regem as disciplinas com as quais manterá interlocução. E, caso o pesquisador possua formação interdisciplinar, melhor ainda; pois a excelência do trabalho investigativo estará assegurada. Antes de tecer comentários sobre a questão das "linguagens artísticas" como fonte de pesquisa para o historiador, convém ressaltar que o "fazer história" não se limita a simples utilização de meios estáticos e enfadonhos. Pelo contrário, a tarefa do historiador é dinâmica e caracterizada por um processo de construção passível de debate constante que se retroalimenta da relação de colaboração e diálogo com outras áreas do conhecimento. Lucien Febvre (1934) através da obra "Combates pela história" salienta que a história não se faz só com documentos. Mas, também com poemas, pinturas, fotos, drama, estatísticas, materiais arqueológicos, etc. Vários outros historiadores de renome também se manifestam sobre a importância da interdisciplinaridade como método capaz de contribuir de modo significativo para uma historiografia de boa qualidade. Para a elaboração do seu trabalho, o historiador necessita de fontes que sirvam como material de estudo. E como as fontes não são neutras, vale dizer, são eivadas de parcialidade e imparcialidade (Nova História) o diálogo com outras áreas do conhecimento é por demais conveniente. Aliás, a interdisciplinaridade atualmente vigora como orientação central. Peter Burke (1977) afirmou com muita propriedade que a mais importante contribuição da Escola de Annales foi expandir o campo da história por diversas áreas. Especificamente sobre a chamada "linguagens artísticas", embora faça parte de um campo vasto e complexo, creio que essas fontes de estudo são capazes de descortinar novos horizontes históricos. Walter Benjamin, autor de " A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica" afirma que as linguagens artísticas são materiais. Logo, obras de estudo e de produção de história. Confesso que passei a nutrir grande admiração por esse consagrado historiador. Ele me fez compreender como as "linguagens artísticas" podem servir como fontes de pesquisa para o historiador. Entre as inúmeras "linguagens artísticas" podemos citar a fotografia, cinema, teatro, música, pintura, etc. O estudioso Humberto Eco (2001) ao abordar o tema ressaltou os efeitos comunicativos da obra de arte, bem como a pretensão fundamental do artista de que o fruidor seja capaz de compreender a forma originária da obra fruto da criatividade. Antes de seguir adiante com essa minha modesta dissertação, gostaria de deixar registrado que rejeito os princípios do historicismo e dos positivistas. Acredito que o cientista ao realizar a pesquisa historiográfica tem interesses próprios e não fica neutro diante do objeto de estudo; ainda mais levando-se em conta que possui noções pré-concebidas e delas não consegue se livrar. Com muito acerto, Foucault enfatizou que "a história existe para usar documentos, interrogá-los, com a finalidade de "reconstituir" a partir deles o passado que desapareceu". É sabido que as fontes como documentos são marcados pela intencionalidade e parcialidade. Além disso, os documentos não podem ser encarados como se fossem matéria inerte. Sobre a reprodutibilidade não podemos ignorar que a obra de arte sempre foi reprodutível. E, com o passar do tempo os métodos de reprodução sofreram inovações devido ao avanço tecnológico. Podemos exemplificar a xilografia, litografia, fotografia, jornal, cinema, etc. Mas, não nos esqueçamos de que mesmo na reprodução mais aprimorada e inovadora, o elemento "aqui e agora" da obra de arte está ausente. E, justamente nesse particular (existência única) é que se manifesta com efervescência a história da obra. As "linguagens artísticas" proporcionam valiosas descobertas para o historiador. Como exemplo, vale destacar a música. Vila Lobos, notável musicista brasileiro estabelece duas categorias no universo da música: a "baixa cultura" (seresteiros, negros, cantores populares do interior, sambistas, etc.) e a "alta cultura" (música de salão da burguesia). Apesar dessa distinção, existe unanimidade quanto ao fato de que a música é capaz de realizar a conciliação de classes; sendo, portanto, fator de integração nacional. A história registra a utilização da música como meio de mobilização e exacerbação do sentimento patriótico. Basta lembrar do emprego em larga escala da música pelo nefasto sistema nazista. Está comprovado cientificamente que a música é uma ferramenta que provoca transformações psico - emocionais no ser humano. Outra "linguagem artística" que ainda hoje contribui muito para a investigação histórica é a fotografia que retrata o momento com todas as suas nuances, além, claro, do valor da exposição. Várias outras fontes de pesquisa poderiam ser citadas aqui pela sua relevância. Porém, prefiro não as mencionar, mesmo porque não tenho como objetivo esgotar o assunto. São apenas breves linhas de uma dissertação. Finalizando, acho oportuno levantar a questão do avanço tecnológico que nos surpreende através de um processo de aceleração inimaginável no mundo contemporâneo. O historiador hoje enfrenta um grande desafio com as informações superpostas e instantâneas. Estamos vivendo a era do imediatismo. O chamado presentismo. Diante desse cenário, a mídia, as redes sociais e o popular WhatsApp, exige redobrada atenção e atualização constante do historiador/ pesquisador. Pelo visto, temos de ler e reler com a devida atenção a obra "Era dos extremos" de Hobsbawn". Uma pergunta, entretanto, não quer se calar: Como se posicionar, por exemplo, diante da avalanche de informações na internet, muitas vezes conflitantes e inverídicas, que se multiplicam a todo instante de forma global?
(Curso de Pós-Graduação de História e Cultura no Brasil - 2020 - Universidade Estácio – RJ)
*Observação: Esta obra literária está protegida por direitos autorais. Ao copiar algum trecho, cite sempre o nome do autor.
DISSERTAÇÃO 5:
Explique fazendo uso de no mínimo 15 linhas as principais críticas da Escola dos Annales a história tradicional (positivista) e descreva quais as propostas dessa corrente.
Resposta Dissertativa:
É com imenso prazer que faço um breve e modesto comentário sobre a Escola dos Annales, que no início do século XX "revolucionou" a historiografia da cultura ao privilegiar o universo mental dos personagens e grupos sociais. Os atores até então ignorados e desprezados ganharam vida. Com o advento da citada Escola, e seu movimento inovador, um novo ciclo surgiu no campo dos estudos historiográficos, dando origem a chamada "História das Mentalidades", cujos princípios, acredito que devem constituir o referencial, a base sólida de diretrizes a nortear o historiador da cultura brasileira; muito embora este deva agir sem as amarras na sua liberdade de ação. Ao fazer uso da interdisciplinaridade e dos instrumentos oferecidos principalmente pela antropologia, por certo o pesquisador realizará um trabalho de grande valia. A Escola dos Annales que surgiu em 1929 na França, através da revista Annales d' historie économique et sociale fundada por Marc Block e Lucien Febvre tinha como principais alvos de crítica a corrente historiográfica positivista e marxista. E o diálogo que mantinha com diversas ciências, entre as quais, a antropologia, geografia, arquitetura, literatura, ciências sociais, etc., ampliou de modo significativo o estudo metodológico da historiografia cultural e abriu novos horizontes, fato que possibilitou importantes descobertas. Vale dizer, a historiografia ganhou impulso e atingiu elevado nível de aprimoramento científico. Especificamente sobre as críticas direcionadas a corrente historiográfica positivista, creio que a Escola dos Annales agiu com muita propriedade e competência. Isto porque a abordagem dos fatos históricos de forma meramente objetiva (filosofia positivista) deve ser repelida. Convém destacar que o trabalho dos historiadores não se resume à uma simples narrativa dos fatos. Não se trata de contar uma história, mas sim, de realizar um trabalho de cunho científico com metodologia e análise marcada pela relação de interdependência e interdisciplinaridade que oferece um "olhar" mais global. A história não pode prosperar como ciência linear; assim como não tem cabimento a chamada neutralidade científica. A pergunta que não quer calar é: pode uma história que se atém aos fatos sem interpretá-los; enfim se fundamentar apenas em uma narrativa e (ou) análise de documentos, almejar a cientificidade? Eu, acredito que não.
Com relação as propostas da Escola dos Annales podemos salientar o seguinte:
1 - Combate a historiografia positivista e marxista
2 - Combate a uma história avessa ao diálogo com outras ciências
3 - "Segunda Geração" - Fernand Braudel - "história de longa duração"- domínio temporal- relação entre o homem, a geografia e vida material
4 - "Terceira Geração" ou História Nova - Jacques Le Golf / micro-história - metodologia bastante específica ( ex.: Carlo Ginzburg, autor de "O queijo e os vermes")
5 - "Nova História" - anos 70 - Nova História Cultural - representação, imaginário, narrativa, ficção e sensibilidades
É de suma importância mencionar que a Nova História ou História Cultural desperta atualmente grande interesse no meio acadêmico com índice de 80%; e mantém estreito diálogo com a antropologia. Além disso, dá especial atenção à "longa duração histórica", valoriza os detalhes do cotidiano, a micro-história, a história das massas, os atores anônimos, enfim, abraçam o popular.
*Gladston Salles
(Curso de Pós-Graduação de História e Cultura no Brasil - 2020 - Universidade Estácio – RJ)
*Observação: Esta obra literária está protegida por direitos autorais. Ao copiar algum trecho, cite sempre o nome do autor.
DISSERTAÇÃO 6:
*Gladston Salles
A folclorista Alexina de Magalhães Pinto escreveu em 1909 que os brinquedos infantis atuariam no (...) revigoramento da saúde, do sentimento, da moralidade pátrias no crítico momento atual.
Elabore um texto dissertativo com no mínimo 20 linhas sobre as principais mudanças sociais, políticas e econômicas pelas quais o Brasil passou na transição do período monárquico para o republicano?
Resposta Dissertativa:
Antes de abordar o tema proposto quero deixar aqui registrado a minha admiração e reverência à Prof. Alexina de Magalhães Pinto, considerada a "primeira folclorista brasileira" que deixou um legado de inestimável valor no ensino didático de crianças e adolescentes. Convém ressaltar que além de professora e folclorista, Alexina também foi pesquisadora e escritora, tendo publicado os livros "As nossas histórias" (1907), "Os nossos brinquedos" (1909) e "Cantigas de criança e do povo e danças populares" (1916). A presente dissertação, modesta por natureza, é dividida em dois tópicos (transição do período monárquico para o período republicano e atuação da folclorista Alexina). O meu trabalho tem como foco a problemática do ensino no Brasil, levando em conta a mencionada transição e a presença da folclorista Alexina no sistema de ensino até meados do século XX.
1 - Transição: Período Monárquico x Período Republicano
A educação mesmo após a Independência permaneceu elitista. Fato que constituía um entrave para o desenvolvimento da educação pública. Os menos favorecidos continuavam ignorantes e analfabetos. Sensibilizado com a situação, D.Pedro I em 1824 elaborou uma constituição, cujas leis promulgadas tinham como finalidade criar um sistema de educação popular e gratuito. Mas, o objetivo não se concretizou devido a falta de recursos. Além disso, o descaso era evidente. A elite tinha por hábito mandar os filhos estudar na Europa. Foi então que surgiu uma lei autorizando a criação de escolas particulares em todo território nacional. O ensino no país então ganhou força, e diversos cursos foram criados, inclusive superiores; porém a maioria dos alunos eram provenientes da elite. Basta dizer que apenas 3% da população tinha acesso às escolas básicas, e o analfabetismo atingia o índice de 80%. Não demorou muito, e em 15/10/1827 foi promulgada uma lei determinando a criação de escolas elementares em todas as cidades, vilas e lugarejos. Tendo sido adotado o método inglês Lancaster em virtude da falta de verbas. O referido método consistia na existência de um único professor responsável por diversas escolas auxiliado por um aluno mais adiantado como monitor. Porém, não deu certo. E apenas um reduzido número de escolas públicas acabaram se transformando em escolas de alfabetização. E essa situação deplorável permaneceu por um longo tempo...
Na segunda metade do século XIX um conflito de interesses na área econômica envolvendo os cafeicultores da região do Vale do Paraíba (maior produtora de café) que apoiavam a monarquia e os cafeicultores do Oeste Paulista opositores do poder centralizador do Império deu origem a uma grave crise que abalou o regime vigente. Logo os embates políticos se multiplicaram, e a propaganda republicana ampliou-se de modo considerável, dando origem ao partido republicano que foi formalmente criado em 1870 no Rio de Janeiro. Por outro lado, o exército brasileiro aumentava cada vez mais o contingente de populares em suas fileiras, e entrava em atrito com o elitismo do regime monárquico. Com isso o Império sofreu desgaste. E assim que terminou a Guerra do Paraguai em 1870, o exército brasileiro passou a ser considerado o salvador nacional. Outro fato político marcante foi o descontentamento dos grandes fazendeiros com a monarquia em virtude da Abolição da Escravidão em 1888; pois os fazendeiros dependiam muito da mão de obra escrava. No ano seguinte, o Marechal Deodoro da Fonseca proclamou a República do país. Na fase republicana a figura do patriarca assumiu um papel preponderante no ambiente familiar com repercussão na sociedade da época. Os membros da família e agregados viviam sob o poder centralizador do patriarca que ditava as ordens como um soberano. As mulheres exerciam papel secundário, vale dizer, quase insignificante. Não tinham voz, nem vez... À elas cabia ser uma boa "parideira" e cuidar da prole. Quanto às crianças, coitadas, viviam sob o domínio do medo, mergulhadas num mundo sombrio, sem direito de viver a infância com plenitude. Eis algumas citações que servem para ilustrar o assunto:
... "E a família patriarcal era o mundo do homem por excelência. Crianças e mulheres não passavam de seres insignificantes e amedrontados, cuja maior aspiração eram as boas graças do patriarca."
... "Até meados do séc.XIX a casa grande era o modelo perfeito do fechado mundo patriarcal."
... "Nos primeiros anos da República, a família patriarcal começa a mostrar sinais de fraqueza. Não que ela fosse incompatível com o novo regime. São as cidades, as novas profissões, a luz elétrica, os bondes, os imigrantes, as lojas comerciais, as indústrias que ameaçam o patriarca."
(Revista Nosso Século - São Paulo - Abril Cultural - 1980 - págs. 96 e 98 " Memória Fotográfica do Brasil no Século 20 - 1900/1910 ")
2 - Atuação da folclorista Alexina
Antes de escrever sobre a "primeira folclorista brasileira", vale a pena fazermos uma reflexão sobre a problemática do ensino na fase inicial do período republicano. Para tanto, cito um trecho coletado, que acredito ser de grande valia:
... "A palmatória era o terror da meninada. Especialmente nas sabatinas de tabuada, quando os "bolos" eram distribuídos a granel. Bolos, varadas, puxões de orelha ou outros castigos, como passar a aula inteira de pé na frente da classe, com um livro aberto nas mãos. Isto quando a criança não era obrigada a escrever centenas de vezes - devido a um gaguejo ou uma falha da memória - "devo decorar minhas lições até ser capaz de repeti-las corretamente". E a maior parte do tempo passado na escola era gasto em repetições em voz alta o principal "método" de ensino."
(Revista Nosso Século - São Paulo - Abril Cultural - 1980 - pág. 128 "Memória Fotográfica do Brasil no Século 20 - 1900/1910")
Mas, quem foi a folclorista Alexina? Uma jovem professora sonhadora? Excêntrica? Idealista? Qual o adjetivo mais apropriado para defini-la? Confesso que não sei. O fato é que logo no início de minha breve pesquisa sobre a trajetória de vida dessa brilhante folclorista, algo me surpreendeu... Alexina, nascida em 1870 na localidade de São João del-Rei, Minas Gerais; já no ano de 1883 fez concurso para o magistério na Escola Normal de sua cidade natal e foi aprovada; tendo sido nomeada como professora para a cátedra de desenho e caligrafia. Portanto, começou a lecionar com apenas 13 anos de idade! Até parece que estava predestinada a uma carreira vitoriosa... Depois de pedir exoneração do cargo que exercia, ingressou na Escola Normal no Rio de Janeiro. Aos 20 anos de idade viajou sozinha para a Europa, demonstrando a todos o seu espírito independente. Consta que no continente europeu frequentou cursos e entrou em contato com os pioneiros da "escola ativa" ou "escola viva" (pensamento inovador contrário à escola antiga fundamentada na memorização e no bloqueio à espontaneidade). Como professora acreditava na escola dinâmica capaz de aceitar e valorizar os jogos infantis como instrumento de aprendizado e estímulo ao universo criativo. Pregava o aproveitamento da natureza lúdica da criança para fins didático. Como professora simpatizante da aprendizagem global, adotava vários meios para despertar a curiosidade e interesse dos alunos em aprender. Era contra a cartilha soletrada. E foi a primeira professora que deixou de lado a palmatória. Não submetia os alunos a nenhum tipo de castigo físico. Preocupada com o elevado índice de analfabetismo, adotou métodos de ensino inspirado no escolanovismo (caráter regenerador com proposta de atividades extracurriculares e nada de memorização na educação). O trabalho desenvolvido por Alexina não se restringia apenas à instrução; exercia também de modo efetivo uma função civilizadora; e demonstrava anseio por uma sólida identidade nacional brasileira. Sempre divulgava lições de moral, a importância dos hábitos saudáveis, virtudes e valores indispensáveis para os futuros cidadãos. Enfim, como professora teve uma atuação invejável, marcada por ações inovadoras que contribuíram para o aprimoramento do ensino didático. Mas, qual a razão do título "primeira folclorista brasileira"?
Eis, minha resposta resumida:
Alexina foi quem usou pela primeira vez material folclórico na elaboração de livros didáticos; e inovou utilizando literatura cívico-pedagógica voltada às crianças. Através de sua atuação inovadora chegou ao ponto de "mergulhar" na cultura popular e coletar dados com o propósito de utilizá-los para fins didáticos. E nesse universo infantil, onde as brincadeiras se multiplicam, sempre encontrava potencial educativo. Muito criativa e musicista, sabia como aproveitar as cantigas de roda na educação dos seus alunos. Via nos brinquedos uma função integradora. Sabia como ninguém recriar as históricas folclóricas. Atuando como uma verdadeira pesquisadora, coletava dados folclóricos, até então desprezados, e os vinculava com muita inventividade às aulas de educação física, instrução moral e cívica, higiene e história pátria. Aproveitava os brinquedos para ressaltar os conceitos de tolerância, espírito crítico e o domínio de si mesmo.
" Para compor ainda o destaque de sua trajetória profissional, Alexina fez um uso muito particular dos chamados brinquedos infantis, mesmo esses estando ligados na época ao prazer e totalmente desligados do mundo educacional, a folclorista, justificava o seu uso, afirmando que, o ócio quando bem orientado, educa, sana e une." (Maria Lúcia Monteiro Guimarães, Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, 2017, Exposição, "Alexina de Magalhães Pinto: Do Mito à Realidade")
Para Alexina as "impressões" obtidas na infância funcionam como base para a criação de um sentimento pátrio. Creio que o trabalho pioneiro desenvolvido pela "primeira folclorista brasileira" foi um marco que despertou o interesse de educadores, e historiadores ávidos de um "manancial" de riqueza da cultura popular no país. Pena que a jovem mineira formadora de professoras e professores, e que realizou um trabalho didático e pedagógico revolucionário da Educação na Velha República não tenha tido até hoje o reconhecimento merecido. Mulher a frente de seu tempo, notável folclorista, patriota, de pensamento progressista, e que enfrentou vários desafios, permanece quase esquecida. Sabe-se que após ficar surda, deixou de lecionar; vindo a ter uma morte trágica no ano de 1921.
Ao concluir minha dissertação, fico imaginando àquela jovem professora, contestadora de costumes, percorrendo de bicicleta e com roupas de ciclismo, as ruas de São João del-Rei , para o espanto da sociedade ultra conservadora...
Referência bibliográfica:
Revista Nosso Século, SP, Abril Cultural, 1980, N785, Vol.1, 80-0890, "Memória Fotográfica do Brasil no Século 20", Vol.1 - 1900/1910
Site: http://fabiopestanaramos.blogspot.com (Título: Para entender a história... | Post.: A Educação no Brasil Império)
Alexina de Magalhães Pinto: Do Mito à Realidade (Exposição ante o Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, defesa da Patrona da Cadeira 16, realizada pela Prof. Maria Lucia Monteiro Guimarães, Mestre em Educação, 2017
(Curso de Pós-Graduação de História e Cultura no Brasil - 2020 - Universidade Estácio – RJ)
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